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A (até então) desconhecida Xapuri, no interior do mais remoto estado brasileiro – o Acre, último território a ser integrado ao Estado -, região de exploração de seringais, ganhou uma infeliz notoriedade na década de 1980. Em 22 de dezembro de 1988, Francisco Alves Mendes Filho, seringueiro à frente da luta em defesa da floresta e dos povos da região e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, foi assassinado em uma tocaia no quintal da sua casa. O crime que buscava calar a voz e a luta de Chico Mendes, como ficou internacionalmente conhecido, acabou por imortalizá-lo, chamando a atenção para as questões em torno da sobrevivência dos povos da floresta e da devastação ambiental que os ameaça (e à nós) de destruição.

O ativista participou da fundação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) em 1985 e integrou a União dos Povos da Floresta, que buscava unir os interesses de indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores e populações ribeirinhas – ou seja, povos que dependiam da floresta para sobreviver. Começou seu envolvimento com a organização de trabalhadores locais depois da chegada da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) à região em que vivia ainda na década de 1970. Participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT) no Acre. Donos de madeireiras, de seringais – que exploram a mão de obra local à exaustão – e latifundiários passaram a ameaçá-lo a medida que sua luta e a organização dos povos da floresta em prol da preservação ambiental e desenvolvimento de atividades sustentáveis avançavam. Apesar das denúncias destas ameaças, o assassinato acabou perpetrado por pistoleiros depois de meses de acintosa vigília.

Seu nome atualmente integra o Instituto de Conservação da Biodiversidade do governo federal, que “é responsável por gerir, proteger, monitorar e fiscalizar as 338 Unidades de Conservação Federais (UC) existentes em todo o país. A autarquia foi criada no dia 28 de agosto de 2007, pela Lei nº 11.516/07, e é vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).” Chico Mendes não marcou a história e a vida daqueles que lutaram a seu lado por ter sido covardemente assassinado: seu nome e sua vida são lembrados, principalmente, pelo legado de luta em prol de um real desenvolvimento sustentável, pioneiro de um debate cujas propostas se popularizariam depois da sua morte.

Seus assassinos, sendo o mandante um pecuarista e seringalista da região que vinha disputando terreno com Chico Mendes e seus companheiros, foram condenados a 19 anos de prisão, dos quais foram cumpridos 9 em regime fechado.

A fotografia que ilustra esta matéria pertence ao fundo IBASE (BR RJANRIO HA.0.ICN.50, s.d, s.l) possivelmente uma passeata exigindo justiça para Chico Mendes, cujos assassinos foram condenados em 1990 em função de intensa mobilização popular no Brasil e pressão internacional, uma vez que crimes de mesmo perfil raramente resultam em condenação no Brasil (ver dados da CPT). Em 2024, um dos assassinos chegou a ocupar o cargo de presidente regional do Partido Liberal (em Medicilândia, Pará), partido que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, mas foi destituído do cargo.

Páginas do informativo Comissão Chico Mendes – criada em defesa dos povos da floresta e como canal de pressão para a resolução do assassinato – de maio de 1989 foram retiradas do dossiê Operação Yanomami - Manifestação em favor dos Yanomami, que reúne material produzido entre 1987 e 1996 – fundo Assessoria de Segurança e Informações da Fundação Nacional do Índio.

 

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