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“Mataram um estudante. Podia ser seu filho!”, “Bala mata fome?”, “Os velhos no poder, os jovens no caixão”. Eram palavras de ordem proferidas no enterro do estudante secundarista paraense Édson Luís, 18 anos, morto pela arma de um policial em 28 de março de 1968 no centro do Rio de Janeiro.

Naquele ano de 1968 manifestações populares estavam oficialmente suspensas, mas protestos de estudantes e também de operários continuavam a ocorrer. Na região do Castelo, centro do Rio de janeiro, as más condições do refeitório do governo federal para estudantes carentes “Restaurante Central dos Estudantes”, inaugurado em 1967 em substituição ao antigo Calabouço incentivavam protestos dos alunos. Naquele dia de março, os estudantes estavam reunidos no refeitório para organizar o próximo protesto, quando policiais e soldados armados invadiram o recinto. Não hesitaram em atirar contra os estudantes que haviam reagido à recepção atirando pedras – uma atuação desproporcional e infelizmente comum das nossas forças de segurança pública diante de manifestações populares, mesmo em períodos democráticos. Em meio a uma ditadura militar que a cada ano fechava mais o cerco às liberdades democráticas, mas que ainda não havia instaurado o reinado de terror e violência que emergiria pouco depois, o assassinato de dois estudantes – Édson Luís morreu no local, Benedito Frazão Dutra foi levado para o hospital mas acabou morrendo – agiu como mórbida lembrança às classes médias urbanas que elas também não se encontravam fora do alcance da violência oficial.

A cidade parou no dia do enterro de Edson Luís. Em São Paulo, estudantes universitários organizaram protestos em solidariedade. Em 4 dia abril uma missa de sétimo dia foi rezada na Candelária, centro do Rio, e ao seu fim a cavalaria da polícia militar atacou os participantes a golpes de sabre, deixando dezenas de pessoas feridas.

Aquele ano marcou a virada mais radical em direção àquilo que Elio Gaspari chamou de ditadura escancarada, iniciada em dezembro de 1968 com a edição do AI-5.

O documento aqui exposto (BR_RJANRIO_X9_0_ESI_ACL_0004_m0001de0014) pertence ao fundo Informante do Regime Militar; é a matéria de uma revista bastante popular na época, a Manchete, edição de 13 de abril de 1968.

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