A palavra imprensa tem sua origem na tecnologia tipográfica criada por Guttenberg no século XV, a prensa móvel que permitia a rápida e simples reprodução de textos montados na máquina. Ao longo dos anos “imprensa” passou a definir a atividade de comunicação que se propõe informativa, embora atualmente a maior parte da informação difundida não seja mais impressa em papel.
A imprensa floresceu intensamente a partir do século XIX e a produção e difusão de notícias acompanharam o crescimento das cidades, da produção industrial, da atividade comercial, da necessidade de difusão rápida das informações, do capitalismo, enfim. Atualmente as empresas de comunicação (detentoras de veículos de imprensa impressos, eletrônicos, digitais) estão entre as maiores corporações do mundo, desempenhando papel fundamental na política e na cultura, criando agendas e vieses.
Quando da independência formal do Brasil do Reino de Portugal em 1822, a atividade jornalística – a imprensa – encontrava-se em seus primórdios. No entanto naquela década e principalmente, na década seguinte, empreendimentos jornalísticos se proliferaram e diversificaram com rapidez assustadora. Incentivados pela Constituição de 1824 que garantia a liberdade de imprensa, cidadãos letrados passaram a fundar folhas, pasquins e jornais onde defendiam com ardor e sem medidas seus pontos de vista sobre a independência, a constituição, a monarquia, a república, o Brasil, as guerras, a escravidão... Em 1822 e nos primeiros anos do Império do Brasil, as páginas dos jornais abrigavam um vale-tudo político e pessoal que pouco lembra os empreendimentos jornalísticos contemporâneos. Mesmo nos jornais considerados mais sérios, a tão (exageradamente) celebrada objetividade jornalística passava ao largo, uma vez que dava-se maior importância à defesa das causas que os dirigentes dos jornais abraçavam com paixão e comprometimento do que à mera divulgação de notícias, por vezes prosaicas. Mesmo na segunda metade do século XIX, quando as ofensas pessoais e as campanhas mesquinhas deram lugar a empreendimentos mais estáveis e profissionais, os escritores e artistas do desenho (chargistas e caricaturistas) não se furtavam a defender as causas e partidos da sua preferência, atacavam ou elogiavam abertamente d. Pedro II (um favorito dos jornais), questionavam ou defendiam instituições e tradições, fazendo uso de uma linguagem literária e apaixonada.
O período republicano passou a contar com uma profissionalização crescente no ramo. Se em 1822 homens de elite de variadas formações (médicos, juristas, políticos, filhos de grandes proprietários rurais ou comerciantes) aventuravam-se em empreendimentos jornalísticos com o intuito de defender com unhas, dentes e palavras sem freio suas ideias e seus interesses, a medida que o século XX avança percebemos que os jornais se tornaram empresas que contratam profissionais do ramo, embora a profissionalização de fato e de direito só viesse no último quartel do século. Em 1922 a notícia passava a ser o interesse central do jornalismo, menos do que o debate de ideias e a defesa de posições políticas. Inflação, desemprego, transportes públicos, sucesso ou fracasso das safras, moda e comportamento, conjuntura internacional geral, greves, saúde pública e, claro, política constituíam a pauta dos jornais vendidos ao cidadão comum.
A “objetividade” e a neutralidade” passaram a ser commodities de elevado valor para as empresas jornalísticas _ no discurso, pelo menos. Com narrativas cada vez mais padronizadas e um jargão próprio que passou paulatinamente a evitar envolvimento, ambiguidade e passionalidade, os veículos de informação hoje vendem uma notícia fria cujo discurso aparentemente imparcial escamoteia as escolhas (empresariais) do grupo por trás do jornal – ou TV, ou página de internet. O viés, contemporaneamente, é construído com bastante esmero, e a legitimidade, alcançada através da identificação com o “cidadão-espectador” e com o uso farto de imagens que são amplamente vistas – equivocadamente – como prova material. Desconstruindo o jornalismo partidário e parcial, as empresas de informação inventaram a cobertura objetiva que transveste a parcialidade de um ponto de vista supostamente crítico.
A imprensa – escrita, falada, televisionada, digital – integra o mundo corporativo, e é construída a partir de interesses de classe e posicionamentos políticos em geral bastante claros daqueles que possuem tais empresas. Durante muitos anos acreditou-se na isenção jornalística. Infelizmente, temos visto que o desencanto com esta isenção não engendrou um debate fértil sobre a democracia nos meios de comunicação e a verdade socialmente construída; antes, vem dando espaço a uma dúvida estéril acerca de toda e qualquer informação colocada pelas empresas midiáticas em função das escolhas (anti-)políticas de cada um, e os cidadãos-digitais cada vez mais tendem a crer em qualquer palavra dita que fale diretamente aos seus anseios, sem nenhuma preocupação com a verificação das informações de uma forma geral.
O Arquivo Nacional possui extenso acervo de jornais e revistas (periódicos) dos século XIX e XX. Os jornais exibidos nesta matéria são:
Diário Popular, 1889: biblioteca J468
O Barriga, de 1836: biblioteca J003.
O Republico, de 1830: biblioteca J036
Revista da Semana (do Jornal do Brasil), de 1900: biblioteca J352
Leitura recomendada:
Albuquerque, A. (2009). Aconteceu num carnaval: algumas observações sobre o mito de origem do jornalismo brasileiro moderno. Revista Eco-Pós, 11(2). https://doi.org/10.29146/eco-pos.v11i2.987
Ribeiro, Ana Paula Goulart. "A imprensa da independência e do primeiro reinado: engajamento e mercado." Vo CONGRESSO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA. São Paulo, 2007.