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Energia Nuclear no Brasil

Quando o mundo aprende a usar os átomos para a paz, o Brasil marcha com o mundo.”

Assim Luiz Jatobá encerra esta produção Atlântida/ Jean Manzon realizada para a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no início dos anos 1960. Criada na década anterior, em 1956,  tinha por objetivo desenvolver a política nacional de energia nuclear. As primeiras pesquisas nesta área no Brasil ocorreram na década de 1930, mas sua prática sistemática e ulterior aplicação deram-se a partir do final da década seguinte.

Em 1945, o Brasil assinou seu primeiro acordo nuclear, com os Estados Unidos, prevendo a exportação de areia monazítica (que contém tório, um elemento utilizado em processos nucleares) da região do Espirito Santo. Na época o CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa), então responsável pelas pesquisas e utilização de material radioativo, incluindo sua exportação, era presidido pelo almirante nacionalista Álvaro Alberto da Mota e Silva. Sua tentativa de obter uma compensação específica pela exportação da areia (ou seja, troca de conhecimento dos processos nucleares pelo material exportado) fracassou em função da pressão norte-americana, irredutível na defesa da limitação do conhecimento destes processos. Nos anos seguintes, os Estados Unidos interviram intensamente na política brasileira para minérios estratégicos, inclusive usando a Guerra da Coréia (da qual o governo estadunidense insistia que o país participasse) para impedir que o Brasil obtivesse ganhos científicos e agisse de forma independente em relação a este comércio específico.

Somente com a ascensão de Jucelino Kubitschek à presidência da República haverá uma defesa mais incisiva dos interesses nacionais em torno de recursos naturais de utilização nuclear e o desenvolvimento de uma política específica para o setor. A CNEN é criada nesse contexto, e da sua criação até a renúncia de Jânio Quadros em 1961, houve intensa discussão acerca do desenvolvimento de uma tecnologia nuclear própria baseada na exploração de tório, chegando-se a elaborar planos para a instalação de um reator nuclear no litoral sul do Rio de Janeiro. Um reator nuclear – o primeiro a funcionar na América do Sul -  chegou a ser instalado em São Paulo em 1958, inaugurado pelo próprio presidente JK.

Com o golpe militar de 1964, a política nuclear muda novamente de rumo. Em 1968, a CNEN assina um convênio com a Eletrobrás, estabelecendo a construção de uma usina nuclear no litoral sul do Rio de Janeiro sob responsabilidade de Furnas (subsidiária da Eletrobrás). Contrariando as propostas nacionalistas dos anos anteriores, a compra de tecnologia e equipamento norte-americanos começou a se apresentar como a escolha do governo brasileiro naquele momento, e quaisquer vozes em contrário (como o do renomado físico brasileiro José Leite Lopes) foram silenciadas depois do AI-5. A usina nuclear Angra I, alvo de críticas intensas de cientistas e especialistas de áreas variadas, resultou deste acordo.

Contudo, em meados da década seguinte, o acordo Brasil-EUA foi quebrado, quando o Brasil assinou novo acordo, desta vez com a Alemanha, através de uma nova estatal, a Nuclebrás. Na época, o governo brasileiro justificou o novo acordo com base na concordância, por parte da Alemanha, em transferir parte da tecnologia de enriquecimento de urânio para o Brasil. A questão central colocada pelo governo militar, no entanto, dizia respeito ás vantagens econômicas da construção de usinas nucleares frente ás hidrelétricas, e a limitação do potencial energético dos rios brasileiros. Como pesquisas posteriores comprovaram, tanto a estimativa econômica como energética estavam profundamente equivocadas.

O filme de Jean Manzon, pertencente ao fundo Comissão Nacional de Energia Nuclear e realizado muito antes da construção de qualquer usina em solo nacional, chama a atenção justamente para as reservas de areia monazítica no Espírito Santo, que primeiro chamou a atenção daqueles que, na época, discutiam a energia nuclear no Brasil.

Também é salientado que o primeiro reator em solo brasileiro é utilizado para pesquisas na área nuclear, pesquisas estas que buscam apenas aplicações nas áreas médica e agro-industrial.

BR RJANRIO NN.0.FIL.6.    

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Leitura:

Uma breve história da política nuclear brasileira. Renato Yoichi Ribeiro Kuramoto e Carlos Roberto Appoloni. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 19, n.3: p.379-392, Florianópolis, dez. 2002.

 A dinâmica política da criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, 1956-1960. Ana Maria Ribeiro de AndradeI e Tatiane Lopes dos Santos. Boletim do Museu Emilio Goeldi, , v. 8, n. 1, p. 113-128, Belém, jan.-abr. 2013

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