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A cidade de Volta Redonda, localizada no estado do Rio de Janeiro , a cerca de 130 quilômetros da capital, nasceu visceralmente ligada a Companhia Siderúrgica Nacional: quando a usina começou a ser construída em 1941, a cidade era um distrito de Barra Mansa, e deve sua autonomia e seu crescimento (atualmente é a quarta cidade em Índice de Desenvolvimento Humano do estado) à siderúrgica. A emancipação em relação a Barra Mansa veio em 1954.

Até a década de 1980, o sindicalismo corporativista, caracterizado por uma relação subalterna em relação ao estado, predominava na usina. O processo de redemocratização acabou por abrir caminho para formas de sindicalismo mais combativo, e em 1984 ocorre a primeira greve de ocupação em campanha salarial.

Em 1988 a siderúrgica ainda era uma empresa estatal. Em novembro daquele ano, a inflação – na verdade, hiperinflação - atingia a marca de 858% ao ano. Os salários não conseguiam acompanhar a inflação, e o governo Sarney, depois de fracassados planos de estabilização econômica, apresentava uma popularidade tão baixa que o presidente somente era visto em público sob forte aparato de segurança. Uma boa nova contudo, iluminou aquele ano: a Constituição foi promulgada em outubro, estabelecendo por escrito uma amplitude de direitos individuais e políticos inédita no Brasil. Para concluir o retorno a democracia, faltava apenas as eleições presidenciais, marcadas para final de 1989.

Em tese. Na prática, os governos, especialmente o federal, apelavam para dispositivos anti-democráticos criados durante os anos de ditadura para inibir protestos populares, que marcaram o governo Sarney especialmente no ano de 1987, quando tanques do exército foram vistos nas ruas do Rio de Janeiro em uma demonstração desnecessária e bizarra de força, para combater manifestantes revoltados contra o retorno da inflação que carregavam perigosíssimos e letais paus e pedras.

Talvez a maior afronta ao retorno a democracia e a própria recém-promulgada Constituição, contudo, tenha vindo de Volta Redonda, onde tropas do exército invadiram não apenas a siderúrgica ocupada por grevistas, mas o próprio centro da cidade, depredando indiscriminadamente propriedades particulares e agredindo moradores. O saldo na usina seria mais trágico: três mortos (Carlos Augusto Barroso, de 19 anos, Walmir Freitas Monteiro, 27 anos, e William Fernandes Leite, 22 anos) e centenas de feridos.

A invasão levada a cabo pelo exército no dia 9 de novembro de 1988 começou a ser gestada logo depois da deflagração da greve, em 7 de novembro: o Juiz Moisés Cohen solicita oficialmente força militar para cumprimento da decisão de “manutenção de posse”, e concomitantemente, o presidente da CSN, Juvenal Osório, solicita a intervenção de tropas do 22º BIMtz diretamente ao presidente José Sarney. Em uma tentativa de justificar a violência da repressão, que respondeu com tiros de fuzil a trabalhadores armados de canos e bilhas de metal, o Alto Comando do Exército divulgou imagens da usina depois da invasão, sem obviamente explicar que boa parte da depredação fora causada pelos próprios soldados no ato da invasão.

A greve terminou em 24 de novembro quando os operários em assembléia decidiram aceitar a proposta da empresa (que cedera em quase todos os pontos) e voltar ao trabalho, condicionada a retirada das Forças Armadas. A desastrosa operação que resultou em três mortos e dezenas de feridos, contudo, nunca foi investigada e ninguém jamais foi responsabilizado. Todas as denúncias apresentadas pelo Ministério Público foram rejeitadas, e o general José Luís Lopes da Silva, comandante da invasão, foi indicado Ministro do Superior Tribunal Militar em 1999 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, afirmou em entrevista que a operação em Volta Redonda havia sido uma operação “bem-sucedida.”

A polícia federal acompanhava de perto a movimentação do sindicato e dos grevistas. Instalando seus agentes em edifícios próximos a usina, filmavam o pátio da SOM (Superintendência de operações mecânicas, onde ocorria a maior parte das assembleias) horas a fio. Também produziam detalhados relatórios de atividades e documentos de avaliação do movimento. Leia o texto completo sobre o massacre em Volta Redonda, e conheça algumas obras de referência.

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