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Tem massa de mandioca,

Batata assada, tem ovo cru,

Banana, laranja, manga,

Batata, doce, queijo e caju,

Cenoura, jabuticaba,

Guiné, galinha, pato e peru,

Tem bode, carneiro, porco,

Se duvidá... inté cururu

 

Tem cesto, balaio, corda,

Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu,

Tem fumo, tem tabaqueiro,

Feito de chifre de boi zebu,

Caneco acuvitêro,

Penêra boa e mé de uruçú,

Tem carça de arvorada,

Que é pra matuto não andá nú

 

(Trechos da letra da música A Feira de Caruaru,

composta por Onildo Almeida)

 

As origens da cidade de Caruaru (PE) recuam no tempo até a segunda metade do século XVII  quando a localidade, pertencente à Sesmaria do Caruru,  começou a surgir nas proximidades de um caminho de boiadas, corredor de passagem para vaqueiros que traziam gado do sertão para o litoral e tropeiros e mascates que levavam suas mercadorias no sentido inverso. A construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Fazenda Caruru, mandada erigir em 1781, estimulou o desenvolvimento de atividades comerciais que deram à Feira de Caruaru seu formato preliminar e ao núcleo urbano, suas primeiras casas e ruas. As facilidades de acesso disponibilizadas pela implantação de estradas de ferro e rodovias permitiram que, no decorrer de mais de dois séculos, a feira e a cidade adquirissem importância extraordinária para a região. [1]

Uma das mais tradicionais do Nordeste do país, a Feira de Caruaru é uma feira livre regional que funciona como ponto de encontro de compradores e vendedores oriundos de diferentes cidades. É também um espaço para onde convergem diversas manifestações culturais e expressões artísticas. Além da possibilidade de comprar, vender e trocar produtos e serviços, a feira propicia a tessitura de diferentes níveis de sociabilidade entre comerciantes e fregueses.

É um ambiente onde reina uma certa informalidade nas relações de consumo, mas que logra estabelecer intercâmbios com o comércio formal da cidade de Caruaru. Localizada no agreste pernambucano, sua capacidade de escoar a produção agrícola dos municípios vizinhos, gerar empregos e articular a economia da região a  torna um empreendimento econômico. Os produtos ali comercializados podem tanto ser produzidos e vendidos pelo próprio feirante ou adquiridos de terceiros e revendidos na feira, conferindo a ela capilaridade em relação à economia das cidades vizinhas. [2]

Na Feira de Caruaru, a população da cidade e os visitantes encontram bens de primeira necessidade, como legumes, frutas e outros alimentos, como doces e queijos, além de flores, roupas, calçados e objetos utilitários. Ervas e raízes medicinais que integram o arsenal do conhecimento popular a respeito de diversas condições físicas são igualmente comercializadas na feira. Para ela acorrem ainda artistas, com destaque para aqueles que trabalham com o  artesanato figurativo produzido em barro, legado das obras criadas por Mestre Vitalino ao qual seus sucessores deram continuidade.

Espaço de sociabilidade onde se entretecem diferentes tipos de relações, à época em que o cinejornal foi produzido (1973) nela se encontravam facilmente expressões da cultura local como repente, bandas de pífano e cordel. A esse último está associada a arte da xilogravura, representada no filmete pelo trabalho de Gilvan Samico (1928-2013), gravurista que estudou com Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi e é reconhecido como um dos mais importantes artistas brasileiros da área. A Feira de Caruaru é tributária da identidade cultural da região e funciona também como um atrativo para visitantes que ali podem ter acesso a uma série de experiências sensoriais a partir das cores, sons, aromas e sabores que se derramam das centenas de barracas.

Em 2006, a Feira de Caruaru foi inscrita no Livro de Registro dos Lugares como Patrimônio Cultural do Brasil.

Reportagem produzida pala Agência Nacional a respeito da Feira de Caruaru (PE), em 1973. Brasil Hoje n. 27. Arquivo Nacional. Fundo Agência Nacional. BR RJANRIO EH.0.FIL, BHO.27

Notas:

[1] BRASIL. Ministério da Cultura. Feira de Caruaru. Brasília: IPHAN. 2009. (Dossiê IPHAN, 9).

[2] MIRANDA, Gustavo Magalhães Silva. A feira na cidade: limites e potencialidades de uma interface urbana nas feiras de Caruaru (PE) e de Campina Grande (PB). 2009. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano) – Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.

 

 

 

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