A década de 1950 foi marcada por investimentos em infraestrutura, aumento da produção industrial, crescimento da população urbana, endividamento externo. O desenvolvimentismo de JK trouxe Brasília, o FMI e a abertura de novas estradas, em especial no interior do Brasil. A proposta, ao iniciar o desenvolvimento da malha viária e levar a capital do Brasil para a região central, era integrar o país de norte a sul, passando pelos antigos sertões, dinamizando a economia e as atividades produtivas de regiões do país até então à margem dos investimentos e do desenvolvimento. Em uma versão repaginada da Marcha para Oeste da década de 1930 no governo Vargas, JK se propôs a “arrombar a selva” e o cerrado para unir o país de norte a sul.
Considerações ecológicas estavam fora de questão, e nos anos seguintes _ aliás, nas décadas seguintes _ as matas e florestas do Brasil foram cortados não apenas para abrir estradas, mas para abrir caminho para outros projetos em infraestrutura e também agropecuários e de extração mineral. Além da dinamização e desenvolvimento econômico das regiões visadas e das atividades implementadas, este processo trouxe destruição de recursos naturais, esbulho de terras indígenas e genocídio dos povos nativos, intensificação de uma concentração fundiária já acentuada.
A rodovia Belém-Brasília compõe-se por um conjunto de rodovias federais que conectam a capital brasileira a capital do estado do Pará. O engenheiro Bernardo Sayão foi convidado por JK para comandar o projeto: as obras partiram tanto de Brasília (ainda em construção) quanto no Pará, e a ideia inicial era que os trechos se encontrassem no meio do caminho.
Em janeiro de 1959 havia poucas dezenas de quilômetros entre os dois trechos, mas um nefasto acidente no campo de obras vitimou o engenheiro Sayão e adiou a finalização das obras. Mesmo assim seu primeiro trecho seria inaugurado no mês seguinte, e a estrada recebeu o nome do homem que liderou sua construção.
Os mais de 2 mil quilômetros da estrada foram finalizados anos depois, já no governo ditatorial de Emílio Médici. Em 1975, como mostra o filme aqui exibido, ainda havia muitos trechos da rodovia sem pavimentação.
O presente documentário foi produzido em 1975 pela Agência Nacional, e busca mostrar os avanços obtidos graças à construção da rodovia Belém-Brasil. Sendo uma propaganda dos governos militares acerca do sucesso das suas iniciativas desenvolvimentistas, percebemos novamente a mais completa ausência de preocupações ecológicas ou com questões sociais mais amplas, enfatizando-se apenas a acessibilidade de regiões antes alcançadas somente pela via fluvial, grandes plantações, o tráfego viário.
Documentário produzido pela Agência Nacional sobre as cidades localizadas ao longo da Rodovia Belém-Brasília. Brasil Hoje n° 97 (1975). Arquivo Nacional. Fundo Agência Nacional. BR_RJANRIO_EH_0_FIL_BHO_097
Dutra, S. (2014). O desbravador do Oeste e as narrativas do enfrentamento e devastação da natureza na construção da Rodovia Belém-Brasília. Fronteiras: Revista Catarinense de História, (23), 21-21.
HÉBETTE, J., & Marin, R. E. A. (2004). Colonização espontânea, política agrária e grupos sociais: reflexões sobre a colonização em torno da rodovia Belém-Brasília. Cruzando a fronteira, 30, 41-74.