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Trabalho e sociedade

A partir da segunda metade do século XX a expansão da atividade industrial no Brasil acarretou uma preocupação crescente com a formação profissional de trabalhadores capazes de suprir as empresas com mão de obra confiável, competente, produtiva. Entidades privadas como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) surgiram nesse contexto. No entanto, o Estado assumiu parte desta responsabilidade, estabelecendo cursos de formação técnica e programas de incentivo ao aprimoramento profissional.

O  Programa Intensivo de Preparação Intensiva de Mão de Obra Industrial (PIPMO) foi criado em 1963 no governo de João Goulart pelo Decreto n. 53.324 do Ministério da Educação e Cultura (MEC). O extinto Ministério da Educação e Cultura foi estabelecido em 1953 e seria extinto em 1985, com seu desmembramento e criação do Ministério da Cultura, que em 2019 se tornou uma simples secretaria dentro do Ministério do Turismo. Em 1972 o PIPMO foi ampliado para outros setores, deixando de se dedicar exclusivamente à formação para a indústria.

Suas atribuições iniciais eram a) especializar, retreinar e aperfeiçoar o pessoal empregado na indústria; b) habilitar novos profissionais para a indústria; c) preparar pessoal docente, técnico e administrativo para o ensino industrial, bem como instrutores e encarregados de treinamento de pessoal na indústria, e eles seria implantado em parceria com das escolas de ensino técnico-industrial, de associações estudantis, de empresas industriais, de entidades públicas e de entidades classistas de empregados e empregadores. A ampliação da sua atuação em 1972 implicou também na alteração da estrutura do órgão e em uma coordenação junto ao SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e ao próprio SENAI.

O programa, criado para ser temporário mas que acabou durando 20 anos, integra a lógica de treinamento e formação de mão de obra eficiente e subserviente, exaltando seu papel no desenvolvimento nacional e enfatizando uma hierarquia dentro e fora dos locais de trabalho que não deveria ser quebrada, sob pena de desordem e retrocesso econômico. Esta concepção surge com bastante clareza no documentário aqui apresentado, produzido pela Agência Nacional, em que trabalhadores comuns são apresentados como exemplo de uma vida ordeira, pacata, familiar e próspera (dentro dos limites de prosperidade da classe operária).

Documentário intitulado "Um documento" mostra através do depoimento de trabalhadores empregados em atividades como indústria de calçados, mecânica, e carregadores são apresentados os benefícios do programa de preparação da mão-de-obra industrial, do Ministério da Educação e Cultura, com seus diversos cursos profissionalizantes, em 1968. Arquivo Nacional. Fundo Agência Nacional. BR_RJANRIO_EH_0_FIL_DCT_ 0142_0001

Leitura recomendada

Barradas, A. M. D. S. (1986). Fábrica PIPMO: uma discussão sobre política de treinamento de mão-de-obra no período 1963-1982. Dissertação de mestrado: Educação/ Fundação Getúlio Vargas

Lobo Neto, F. J. D. S. (2006). O discurso sobre tecnologia na" tecnologia" do discurso: discussão e formulação normativa da educação profissional no quadro da lei de diretrizes e bases da educação de 1996. Tese de doutorado: Educação/ Universidade Federal Fluminense

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