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Toda cultura tem suas festas, o tempo e o lugar do encontro, do alívio, da diferença festejada, da celebração em grupo, por ser um grupo. Tido como exemplo típico de festa brasileira o carnaval, como é sabido, tem suas origens na Europa. No Brasil, ganhou feições únicas e espalhou-se de norte a sul, inspirando temas e músicas as mais diversas, do frevo ao samba.

Chamada de festa popular, o Carnaval no entanto não está além das diferenciações sociais. Desde o início do século XX, enquanto os populares invadiam as ruas com brincadeiras que lembravam o antigo e violento entrudo, aqueles que pertenciam às classes mais altas fantasiavam-se de forma sofisticada e frequentavam bailes e corsos das sociedades carnavalescas. Ao longo de todo o século XX, a influência dos costumes (dança e música, em especial) de origem africana influenciariam cada vez mais a festa, levando batuques de diversos ritmos às ruas das cidades brasileiras.

Se inicialmente as formas mais populares de festejar o carnaval eram ignorados pelas elites, a partir de meados do século XX a forma de brincar variava muito mais segundo a região, e a rua se tornava o palco privilegiado do evento. Ganhou as primeiras páginas dos jornais e revistas, e cobertura televisiva. Em tempos de repressão (como durante a ditadura militar nos anos 1960 e 1970), os foliões dedicavam especial atenção aos temas e fantasias, temendo ofender o regime vigente. Ou, ao contrário, aproveitavam os dias de festa para afrontá-lo quando possível. Foi também quando, em algumas cidades brasileiras, desfiles de escolas de samba se agigantaram e tornaram-se espatáculos para pagantes. Mas uma coisa é certa: carnaval é uma festa do povo, e engaja os brasileiros dos mais variados espectros políticos. 

Jornal Opinião

Durante as décadas de 1960 e 1970, os investimentos em empreendimentos jornalísticos no Brasil (mídia impressa) chegaram a ultrapassar 100 milhões de dólares (marcos das duas décadas subsequentes), explicitando um acentuado movimento de modernização, expansão e concentração deste setor, seguindo-se um modelo típico da imprensa nos Estados Unidos. As mudanças são perceptíveis ao público: projetos gráficos enfatizando imagens e manchetes curtas, uso de pesquisas de opinião e entrevistas in loco, aparente ausência de questionamento diante de problemas críticos sob o disfarce da objetividade jornalística. Obviamente este último ponto foi alimentado pelo contexto político, em que a repressão a oposição e a censura sistemática grassavam.

Neste meio período, na contramão da grande imprensa e seguindo-se ao fechamento de pequenos jornais ligados aos movimentos sociais (fechados depois do golpe de 1964), percebe-se um aumento no número de pequenos periódicos alternativos, com um público bem mais restrito e distribuição limitada. Diferenciavam-se dos grandes jornais não apenas por sua oposição aberta ao regime militar e à política econômica vigente, mas também por incorporarem as práticas do antigo jornalismo, admitindo ainda sua pouca preocupação com o sucesso financeiro-empresarial da iniciativa (embora em nem todos os casos).

Um dos jornais mais famosos da chamada “imprensa nanica” foi o Pasquim. Outros exemplos: Mulherio, Quilombo, Versus, Movimento, a revista Bondinho. Entre um extremo e outro, o jornal Opinião (1972-1977), fundado por Fernando Gasparian (empresário) e dirigido por Raimundo Pereira (jornalista) apresentava matérias consistentes escritas por sociólogos, economistas, historiadores, resenhas de filmes, livros e exposições, além de charges e fotografias. Discutia a conjuntura nacional e internacional, e trazia uma seleção de artigos publicados em outros países, em especial do jornal francês Le Monde. Segundo Gasparian, cerca de metade do conteúdo apresentado a censura foi vetado.

A marcação cerrada dos censores e a atuação violenta dos defensores do regime (ver na matéria https://operamundi.uol.com.br/memoria/49222/jornal-opiniao-oposicao-a-ditadura-dentro-da-legalidade) acabaram por fechar o jornal.

Na edição aqui apresentada, o destaque é o carnaval.

Jornal Opinião. Biblioteca Maria Beatriz Nascimento, J419

BECKER, Maria Lúcia. Mídia Alternativa: antiempresarial, antiindustrial, anticapitalista?. Recortes da Mídia Alternativa: histórias & memórias da comunicação no Brasil. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2009.

CRUZ, Tamara Paola dos Santos. As escolas de samba sob vigilância e censura na ditadura militar: memórias e esquecimentos. Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense. Niteróis, 2010.

DE BARROS, Patrícia Marcondes. A imprensa alternativa brasileira nos “anos de chumbo”. Akrópolis-Revista de Ciências Humanas da UNIPAR, v. 11, n. 2, 2003.

DE SOUZA BRITO, Roberta Kelly; DA SILVA, Naiana Rodrigues. Imprensa Alternativa no Brasil: o caso do jornal Opinião. XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Recife - PE – 14 a 16/06/2012.

MAZIERO, Ellen Karin Dainese. Carnaval e moralidade durante a ditadura militar. XXVIII Simpósio nacional de História – julho de 2015. Florianópolis.

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