Em sua coluna Feira de Utilidades no Correio da Manhã, Helen Palmer oferecia variados conselhos a suas leitoras: quais livros ler, como preparar um coquetel ou organizar um jantar, a paixão e o casamento, a aparência e o amor-próprio, filhos, comportamento, saúde e muitos outros tópicos. A coluna foi publicada entre 1959 e 1961, duas vezes por semana, com o patrocínio da marca de produtos de beleza Ponds, e era ilustrada por croquis ou fotografias de moda.
O tom típico de coluna trivial para donas-de-casa perfeitas da década de 1950 contrasta agudamente com o texto denso, por vezes ácido, entremeado de críticas ao que se supõe ser um “jeito feminino de ser,” de questionamentos ao papel esperado das mulheres na sociedade que marcou a obra de Clarice Lispector, a escritora por trás do pseudônimo Helen Palmer. Autora de clássicos aclamados internacionalmente, considerada uma das maiores escritoras (independente de gênero) da língua portuguesa, primeiro autor do país a ser lançado pela prestigiosa série Penguin Modern Classics, Clarice nasceu na Ucrânia em 1920, em uma família judia que, devido a perseguições sofridas migrou para o Brasil em 1922. Lançou seu primeiro livro, Perto do coração selvagem, em 1943. O último, pouco antes da sua morte em 1977: A hora da estrela.
Clarice escreveu durante toda a sua vida, e também trabalhou como tradutora e jornalista. Foi casada durante mais de dez anos, e rompeu o casamento em função da carreira do marido (ele, diplomata, constantemente precisava mudar de país, o que acabou por tensionar sua família). Veio morar definitivamente no Rio de Janeiro com seus dois filhos em 1958, onde permaneceu até sua morte.
Desde a primeira metade do século XX, os jornais de maior circulação, como o Correio da Manhã e O Estado de S. Paulo, publicavam páginas ou seções femininas, que no entanto não eram páreo para as revistas periódicas totalmente voltadas para as mulheres. Aos poucos, a temática de “assuntos femininos” ganha maior espaço. O Correio da Manhã inicia a sua coluna Coisas Femininas em 1925, em meio ao suplemento especial de domingo, mas na década seguinte o jornal lança um suplemento específico semanal, o Correio da Manhã Feminino. Nos anos 1950 os jornais passaram a dedicar mais espaço às mulheres, em uma tentativa de aumentar as vendas, já impulsionadas pelo aumento da população urbana.
BR RJANRIO PH.0.TXT.2671 Recortes de jornais (37) da coluna da escritora Clarice Lispector no Jornal do Brasil, Última Hora e Correio da Manhã, entre 1969 e 1972
Sugestões de leitura:
NEIVA, R. M. de O., & Campos, R. D. de. (2015). A FEIRA DE UTILIDADES DE CLARICE LISPECTOR/HELEN PALMER E A EDUCAÇÃO DAS MULHERES NO CORREIO DA MANHÃ (1959-1961). Cadernos De História Da Educação, 13(2). Recuperado de http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/29216
NOLASCO, Edgar Cézar. Restos de ficção: a criação biográfico-literária de Clarice Lispector. Annablume, 2004.