Quando Brasília, a nova capital do Brasil foi concebida na década de 1950 ela previa a existência de uma nova universidade, condizente com um polo cultural e intelectual como deveria ser a cidade ainda por ser erguida. No entanto, nem todos aceitaram bem esta proposta, pois desejavam que a nova capital fosse apenas um centro administrativo, distante das demandas e polêmicas que uma universidade necessariamente suscita.
A proposta de criação de uma universidade em Brasília só foi concretizada no momento da sua inauguração, quando o presidente Juscelino Kubistchek encaminhou o projeto ao Congresso em 21 de abril de 1960. O antropólogo Darcy Ribeiro e o educador Anísio Teixeira desempenharam um papel fundamental na elaboração da nova Universidade e do seu Plano Orientador, publicado na mesma data em que o então presidente João Goulart instituía a Fundação Universidade de Brasília como mantenedora da nova instituição de ensino e pesquisa através da lei 3998 de 15 de dezembro de 1961.
A Universidade de Brasília (UnB) nasceu com uma proposta diferente das outras universidades públicas tradicionais, com um projeto pedagógico moderno, e calcado no princípio da autonomia universitária. Também previa a vinculação entre ensino e pesquisa, transformando-a em um centro de produção científica, cultural, intelectual, apontando ainda o caminho a ser seguido por outras universidades.
A inauguração oficial do campus ocorreu em 21 de abril de 1962, mas 3 cursos-chave já estavam funcionando: direito, economia e administração; arquitetura e urbanismo; e letras brasileiras, abrangendo literatura e jornalismo. O primeiro reitor da Universidade, Darcy Ribeiro, foi também um dos primeiros intelectuais a ser cassados no golpe de 1964, que implantou uma ditadura militar cuja estratégia principal de implantação do seu projeto de desenvolvimento dependente era a imposição do silêncio às vozes dissonantes, o impedimento da polêmica, a extinção do pensamento crítico.
Se a utopia de reinvenção do Brasil _ sonho caro a JK, Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer _ cristalizou-se na fundação de Brasília e da sua inovadora Universidade, o desastre da distopia imposta pouco depois da sua fundação acarretou na demissão de professores caros ao projeto pedagógico da universidade, expulsão de alunos (muitos deles, presos), exoneração de Anísio Teixeira do cargo de reitor, invasão do campus universitário por tanques e coturnos, apoiada pelo reitor Laerte Ramos de Carvalho, nomeado pelo governo militar.
Os anos de ditadura não foram capazes de sufocar algumas das mais inovadoras proposições da UnB, como a articulação entre os diferentes níveis de saber e a inexistência do arcaico sistema de cátedras, um aspecto que ao longo da década seguinte passou a integrar as universidades brasileiras em geral a partir da Lei 5540 de 1968.
Seis décadas depois a Universidade, que foi desenhada por Oscar Niemeyer e situada por Lúcio Costa em uma das asas do Plano Piloto, expandiu-se para Ceilândia, Gama e Planaltina, acompanhando o crescimento da própria cidade. Também possui extensa área destinada à preservação ambiental e à produção acadêmica na Fazenda Água Limpa.
Imagens
BR RJANRIO EH.0.FOT, PRP.04916: Ranieri Mazzilli, presidente interino, visita as obras da Universidade de Brasília. Brasilia, 06/04/1962. Agência Nacional
BR RJANRIO EH.0.FOT, PRP.8245 Presidente João Belchior Marques Goulart (1961-1963) fora do Palácio da Alvorada: assina o decreto de criação da Universidade de Brasília, Brasília, DF. Brasilia, 16/12/1961. Agência Nacional
BR DFANBSB AA1.0.MPL.11 Telegramas em solidariedade a professores da UnB 22/10/1965. Assessoria de Segurança e Informações da Universidade de Brasília
Leitura recomendada
Bomeny, H. (2016). Universidade de Brasília: filha da utopia de reparação. Sociedade e Estado, 31, 1003-1028.
de Oliveira, J. F., Dourado, L. F., & Mendonça, E. F. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB): DA UNIVERSIDADE IDEALIZADA À “UNIVERSIDADE MODERNIZADA”. A Universidade no Brasil: concepções e modelos, 113.