A Avenida Central: a exclusão dos pobres do centro do Rio e um modelo para o Brasil
Hoje ela se chama avenida Rio Branco e corta trechos importantes do centro do Rio de Janeiro, constituindo dois quilômetros de asfalto da Praça Mauá à Cinelândia. Quando de sua fundação, seu nome era Avenida Central, principal via do centro da cidade nas primeiras décadas do século XX: um retrato da "Belle Époque" carioca.
Aberta logo no início dos anos 1900, essa avenida foi um dos símbolos do discurso modernizador do Poder Público para a então capital da República. O presidente Rodrigues Alves apoiou o prefeito Pereira Passos, que promoveu uma verdadeira revolução urbana no Rio, apelidada de "Bota abaixo". Mas por que esse nome? A explicação é simples: do dia para a noite, milhares de habitações foram destruídas, ruas inteiras sumiram do mapa, tudo para que a então capital brasileira pudesse seguir o modelo tão almejado pelos homens de sua elite: copiar transformações urbanas que o Barão Haussmann promoveu em Paris, capital francesa, algumas décadas antes.
Mas por trás do discurso modernizador e defensor do progresso estava a exclusão das classes populares da região central. Até então morando perto de seus empregos, a derrubada de suas moradias fez com que essa parcela da população fosse enxotada para áreas periféricas. Começou aí o processo que resultaria na atual situação, com trens, ônibus e metrôs lotados que trazem diariamente a população pobre de longe para o trabalho na região central da cidade. Quem resistiu acabou povoando as primeiras favelas, que com as décadas foram paulatinamente aumentando a quantidade de seus moradores.
Só era admitido ao pobre morar distante do centro e, logo depois, também bem longe da zona sul. As zonas norte e oeste foram o destino dos que habitavam os antigos cortiços e moradias populares, muito comuns no centro no final do século XIX e, inclusive, mencionados na literatura em livros como "O Cortiço", de Aluísio Azevedo.
O primeiro prefeito do Rio de Janeiro da era republicana, Barata Ribeiro, já iniciara, nos anos 1890, a perseguição a tais habitações, o que Pereira Passos intensificaria cerca de dez anos depois. Era o início do processo de expulsão dos mais pobres da região, de especulação imobiliária, da ação do Estado em prol de quem tinha maior poder aquisitivo.
Logicamente, ricos comerciantes e a elite carioca não tiveram seus interesses afetados. Assim nasceu um modelo de cidade excludente e um projeto de Brasil, repetido na grande maioria das grandes capitais brasileiras. Na imagem, trecho da Avenida Rio Branco, com data de 1906.
Código de referência da imagem: BR_RJANRIO_O2_0_FOT_0520_m0002de0035. Fotografias Avulsas.