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A fotografia de Erno Schneider estampou a matéria de 24 de fevereiro de 1966 do jornal Correio da Manhã: “Folião bom é folião que dança para si mesmo”, que tratava do carnaval de rua do Rio de Janeiro naquele ano. Na imagem, foliões vestidos de índios fazem uma pirâmide humana durante o desfile do Cacique de Ramos, um dos mais conhecidos e tradicionais blocos de carnaval, declarado patrimônio imaterial da cidade em 2005.

Originário do subúrbio carioca de Ramos, zona da Leopoldina, o bloco foi fundado por três famílias locais – Félix do Nascimento, Oliveira e Espírito Santo – em 1961 e em pouco tempo conquistou o carnaval da cidade. Vestidos de índios – inspirados pelos nomes indígenas de alguns de seus líderes, como Ubirajara, Ubirany e Aymore – tomaram as ruas do bairro, acompanhados de uma banda de música. No carnaval seguinte, empolgados com o sucesso do primeiro ano, levam o bloco para avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, onde ocorreu o primeiro confronto com o já estabelecido bloco do Catumbi, Bafo da Onça. Desse encontro nasceu a rivalidade, celebrada e reencenada todo carnaval, entre onças e índios.          

Os blocos de rua do Rio de Janeiro têm uma história mais antiga que as escolas de samba e constituem uma das tantas formas de expressão da festa símbolo nacional surgidas  em fins do século XIX, a partir da interação – tensões, rupturas e continuidades – entre os festejos populares, como o entrudo, o Zé Pereira e os cumcubís, e a festa desejada pela elite, que buscava tomar a rua e disciplinar a folia. Enquanto a classe média e alta construía seu carnaval inspirada em modelos europeus da festa, dando origem aos corsos, aos bailes de máscaras e clubes carnavalescos, as classes populares passaram a se organizar em cordões, blocos e ranchos.

Os cordões e blocos continuariam existindo ao longo de todo século XX, caracterizados como o “Pequeno Carnaval” ou carnaval de rua, descendente do Entrudo e das festas negras. Formados por grupos de pessoas de um bairro que saíam fantasiadas e em cortejo pelas ruas da cidade, os blocos tiveram uma natureza mais espontânea e menos organizada do que as escolas de samba, que surgiram na década de 1920 e contaram com intenso apoio estatal a partir do governo Vargas.        

No entanto, mesmo com os holofotes voltados para o “Grande Desfile”, o pequeno carnaval resistiria. Uns tantos blocos desapareceram, enquanto outros foram criados. É o caso do Cacique de Ramos (1961), Bafo da Onça (1956) e Boêmios do Irajá (1967), que mesmo durante a ditadura militar, quando as liberdades individuais foram cerceadas e o espaço público controlado, sobreviveriam apesar do nítido esvaziamento da festa popular.

A redescoberta do “antigo” carnaval dos blocos pela população carioca e a reocupação da cidade, iniciada nos anos de 2000, tem levado milhares de foliões às ruas anualmente. Em 2018, a Riotur organizou o desfile de quase 500 blocos durante o carnaval no Rio de Janeiro. Entre eles, o tradicional Cacique de Ramos, que leva seus índios a avenida República do Chile aos domingos, segundas e terças de carnaval.

A fotografia acima pertence ao fundo Correio da Manhã, que guarda mais de um milhão de fotografias, resultados das coberturas jornalísticas diárias do jornal.

Legenda da Imagem: Cacique de Ramos. Rio de Janeiro, 1961. Correio da Manhã. BR RJANRIO PH.FOT.146.22

 

Bibliografia e leituras recomendadas:

 FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do carnaval brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

 MORAES, Eneida. História do carnaval carioca. Rio de Janeiro: Record, 1987.

 PEREIRA, Carlos Alberto Messender. Cacique de Ramos: uma história que deu samba. Rio de Janeiro: E-papers, 2003.

 REIS, Leonardo Abreu. Memória familiar no Cacique de Ramos. Dissertação (Mestrado em memória social e documento) – UFF. Rio de Janeiro, 2003.

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