O estado do Tocantins foi criado em outubro de 1988, em uma determinação da Assembleia Nacional Constituinte, a partir de uma divisão do estado de Goiás. Xambioá é um município de Tocantins, localizado à margem do rio Xingu. Também é uma denominação alternativa para a etnia nativa do Brasil Karajá do Norte que, como outros grupos nativos, tem o rio Araguaia como eixo mitológico e social crucial para a sua existência.
Rica em cristal de rocha, a região passou a receber garimpeiros na década de 1930.
A região também foi palco de nefastos eventos que marcaram a história recente do Brasil. Você tem ideia de que eventos são esses?
No final da década de 1960, uma região pouco populosa na parte norte do estado de Goiás começou a receber grupos de jovens oriundos de várias cidades do Brasil, em especial do sudeste. Em contraste com a esparsa população local, formada por camponeses e pequenos garimpeiros de cristal, os visitantes possuíam bom nível de instrução e eram predominantemente brancos. Inicialmente enviados para avaliar a região, o contingente de militantes que lutavam contra a ditadura militar aumentou nos anos seguintes.
Alguns grupos tentaram estabelecer bases de luta armada na região, como a VAR-Palmares e a ALN. Apenas o PC, contudo, logrou estabelecer uma base de operações. Embora tentassem organizar os moradores locais em torno de questões comuns, não há indícios de que camponeses tenham se envolvidos na guerrilha ou com questões políticas mais amplas.
Estes militantes do PC do B (Partido Comunista do Brasil) começaram a atuar especialmente como professores e auxiliares na área da saúde, instalando-se nos povoados da região, onde ganharam a confiança dos moradores locais. A formação de um movimento de guerrilha como via para uma revolução comunista já integrava a agenda do Partido Comunista, e os militantes que se instalaram na região de Xambioá, no Bico do papagaio (então norte do estado de Goiás) planejavam aos poucos trazer a população local para a luta contra a ditadura militar e, posteriormente, para o movimento revolucionário.
Em abril de 1972 a primeira operação do exército movimentou a região. Precedida por missões de reconhecimento, o destacamento acabaria prendendo Danilo Carneiro, Rioco Kaiano e José Genoino. Foi a primeira de três missões cujo objetivo era eliminar a guerrilha: em seus momentos finais, o extermínio dos combatentes passou a ser uma orientação generalizada. A operação, encerrada oficialmente em janeiro de 1975, deixou um saldo impreciso de mortos e desaparecidos, que podem chegar a 100. Não apenas militantes e soldados perderam suas vidas, mas também camponeses foram presos, torturados e assassinados durante as operações do exército. Depoimentos de sobreviventes dão conta de vários atos de pura selvageria por parte de soldados, como um prisioneiro cujo pescoço foi serrado enquanto ainda estava com vida.
Apesar da censura aos meios de comunicação, uma notícia acerca do evento conseguiu furar o cerco e chegar às páginas de um grande jornal. Em setembro de 1972 o Estado de São Paulo publicava matéria sobre a operação do exército que transformara a região de Xambioá “em uma grande praça de guerra”, onde “caminhões, jipes, oficiais e soldados” circulavam “fortemente armados”.
Em novembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos determina que o Estado Brasileiro é culpado por omissão na investigação acerca dos crimes envolvendo o episódio da guerrilha do Araguaia. Tentativas de responsabilizar agentes do estado foram feitas ao longo dos anos, mas sempre rechaçadas através de pressão das forças armadas, escudadas na interpretação dada pelo STF à Lei de Anistia de 1979, que acaba por proteger inclusive criminosos responsáveis por crimes contra a humanidade (por exemplo, torturadores) de investigações e punições.
Imagens do dossiê BR DFANBSB V8.MIC, GNC.AAA.72049474: Mapa e fotografias atinentes à Guerrilha do Araguaia: Pessoas - Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão), Antonio Carlos Monteiro Teixeira, Juarez Rodrigues Coelho, Idalísio Soares Aranha Filho (Aparício); Xambioá - campo de pouso, rua, ancoradouro, hotel, estrada; Rio Araguaia e Povoado de São Geraldo; barracas do Exército, CISA, CENIMAR, FAB. Ano: 1972
Leitura recomendada:
Relatório da Comissão Nacional da Verdade. https://cjt.ufmg.br/wp-content/uploads/2017/08/Guerrilha-do-Araguaia-CNV-Parte-1.pdf
MECHI, Patrícia. A Guerrilha do Araguaia e a Repressão Contra Camponeses: reflexões sobre os fundamentos e as práticas repressivas do estado brasileiro em tempos de ditadura. História Revista, v. 20, n. 1, p. 48-70, 2015.
http://opiniaoenoticia.com.br/nesta-data/estado-de-s-paulo-publica-a-primeira-materia-sobre-a-guerrilha-do-araguaia/