O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, tem origem no movimento operário e sufragista, e atualmente consta do calendário oficial da Organização das Nações Unidas, desde 1975.
Durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague (Dinamarca) em 1910, que contava com 100 mulheres de 17 países, uma ativista alemã sugeriu que a luta das mulheres por direitos sociais e políticos fosse marcada por um dia de celebração internacional, a exemplo do que acontecia nos Estados Unidos desde fevereiro do ano anterior, onde o Dia Nacional das Mulheres fora inspirado por 15 mil trabalhadoras, ligadas ao Partido Socialista da América, que marcharam em Nova York (e outras cidades) por melhores salários, direito ao voto e redução da jornada em 1908.
O primeiro Dia Internacional das Mulheres ocorreu em 19 de março de 1911, em uma referência a uma promessa (não-cumprida) do kaiser Guilherme I da Prússia de permitir o voto feminino.
A escolha da data definitiva (8 de março) tem origens obscuras, mas sabe-se que foi escolhida pela primeira vez em 1914. Sua popularização pode ter ocorrido em função de uma greve em plena Primeira Guerra, na Rússia, durante a qual as mulheres se organizaram para exigir pão e paz, fechando fábricas e ocupando as ruas. Dias depois a greve se generalizava, o exército se junta aos revolucionários, o Czar renuncia, dando início à Revolução de 1917 e as mulheres alcançam direitos anteriormente negados na velha Rússia patriarcal: trabalhar, votar, associar-se.
O Dia Internacional das Mulheres ganhou impulso na década de 1960 e nas décadas seguintes alcançou a popularidade atual, tendo sido adotada oficialmente pela ONU em 1975, escolhido pela entidade o Ano Internacional da Mulher. Contudo, mesmo a ONU ignorou solenemente a origem revolucionária e comunista da data, embora a adotasse abertamente, mencionando apenas a luta pelo sufrágio feminino. Eventos trágicos relacionados ao movimento das mulheres (inclusive operárias) nos Estados Unidos foram evocados e também distorcidos, e versões não corroboradas por documentação existente (nem mesmo jornais) acabaram ganhando o mundo. Segundo Adriana Carneiro, “Com o passar dos anos, o destaque dado pelos meios de comunicação e pelos próprios relatos de pesquisadores ao incêndio, e o silenciamento em relação à mobilização das mulheres em 1917 trouxeram para vários países uma visão da origem da data que não corresponde à realidade. Para além da simples distorção dos fatos históricos, o que, por si só, já constitui um sério problema, há um aspecto que diferencia fundamentalmente a participação das mulheres nos dois episódios. No incêndio da Triangle Shirtwaist, a mulher é uma vítima da opressão dos patrões – ou da polícia, a depender da versão – e do fogo. Seu protagonismo é o das sofredoras e oprimidas que se tornam heroínas porque, graças à sua tragédia, contribuíram para a transformação de uma realidade e a conquista de direitos para suas iguais. Já nos protestos que deram início à Revolução Russa, em 1917, as mulheres ocuparam uma posição de protagonismo ativo, e não de vítimas. Foi delas a decisão de ir às ruas, mesmo contra a opinião dos líderes do movimento operário, que haviam previsto apenas uma mobilização nos moldes tradicionais para aquele Dia Internacional da Mulher. Foi delas a coragem de enfrentar a tropa do tsar e o estímulo de levarem consigo, para o protesto nas ruas, os trabalhadores que não estavam nos campos de batalha. Encoberto, o fato deixa de mostrar a participação política das mulheres para a construção de uma revolução que tem papel importante para a história mundial.”
O suposto incêndio em fábrica, história disseminada em vários países e aqui narrado em quadrinhos, não encontra corroboração nos registros históricos. Embora incêndios em fábricas não fossem incomuns e nem mortes de grevistas em confronto com a polícia, a origem do dia internacional da mulher não é esta.
Arquivo: BR DFANBSB V8.MIC, GNC.GGG.84008344: COMEMORAÇÕES NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PELA PASSAGEM DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Março de 1984. Serviço Nacional de Informações.
Carneiro, A. J. (2011). Gênero e mídia: a cobertura do Dia Internacional da Mulher.
GONZÁLEZ, A. I. Á. (2010). As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres. São Paulo: editora expressão popular.
No dia 8 de março já se tornou comum a distribuição de flores para as mulheres, um gesto que muitos consideram uma homenagem mas muitas percebem como uma afronta, diante dos números escandalosos de violência contra a mulher e da insistente desigualdade entre os gêneros.
Alguns mitos em relação ao 8 de março também se desenvolveram ao longo destas décadas em que a celebração existe. Você conhece a história por trás desta data?