O fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), sobrinho do escultor de mesmo nome que chegou ao Brasil com a Missão Artística Francesa em 1819 e aqui se radicou, começou sua carreira ainda nos tempos do Império. Depois de uma infância brasileira, ele retornou a França aos sete anos, depois que seus pais morreram. De volta ao Brasil na adolescência, realizou trabalhos para a Coroa (por exemplo, integrou a Comissão Geológica do Império), além de ter recebido o título de Fotógrafo da Marinha Imperial. Pioneiro na fotografia e no cinema (na exibição e distribuição de filmes), chegou a projetar e mandar confeccionar equipamentos fotográficos bastante específicos, e únicos. Inaugurou uma das primeiras salas de exibição da cidade do Rio de Janeiro (Pathé, em 1907), além de representar equipamentos importados, por exemplo, dos irmãos Lumière.
Marc Ferrez e, em especial, seus filhos Júlio e Luciano desempenharam um papel fundamental na história do cinema em terras brasileiras, se não tanto pelo seu envolvimento na produção de filmes, pelo investimento em equipamentos necessários a criação de uma rede de distribuição e exibição de filmes, além obviamente das salas de cinema que ergueram na cidade.
O fundo Ferrez abrange o período de 1839 ao ano 2000, e foi doado ao Arquivo Nacional pela família de Gilberto Ferrez (neto de Marc) em 2007. São cartas, postais, negativos e fotografias pessoais da família Ferrez, além de extensa documentação acerca das empresas da família: Casa Marc Ferrez, Marc Ferrez e Filhos. Possui uma base de dados própria e subdivide-se em Claire Louise Poncy Ferrez; Firma Marc Ferrez; Gilberto Ferrez; Júlio Ferrez; Luciano Ferrez; Mary Jessop Dodd Ferrez; Marc Ferrez.
Os arquivos de Luciano Ferrez demonstram seu interesse pela arquitetura e engenharia, apresentando registros do arrasamento do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro nos anos 1920, como toda a construção do edifício do cinema Pathé na Cinelândia em 1928. Seu irmão Julio concentrava-se mais em registrar pessoas, desde trabalhadores braçais ou figuras populares, até a própria família. No fundo também há registros fotográficos de viagens da família por diversos lugares do Brasil e do exterior, a reforma do Largo da Carioca, a construção da Cinelândia, vistas de Santa Teresa, o Mercado da praça XV, a expansão da cidade em direção a zona oeste, as reformas urbanas promovidas por Getúlio Vargas nos anos 1940 na então Capital Federal.
As imagens que ilustram esta matéria fizeram parte da exposição virtual Rio do morro ao mar.
BR_RJANRIO_FF_JF_1_0_5_p14_2. Largo da Sé e Igreja de São Sebastião antes do início das obras de demolição. Rio de Janeiro, [1920]. Foto Júlio Ferrez [?]. Arquivo Família Ferrez
BR_RJANRIO_FF_JF_1_0_5_p13_2. Imagem de criança não identificada, registro entre 1917 e 1921.
BR_RJANRIO_FF_MF_1_0_07_1. Catálogos relacionados à fotografia: Les plaques autochromes : notice sur leur emploi. Paris : Lumière & Jougla, [ca. 1921]; e Plaques, papiers, produits photographiques en vente chez tous les marchands de fournitures générales pour la photographie. Paris : Lumière & Jougla, 1921.
A base de dados Família Ferrez contem informações sobre o acervo documental de cerca de 40 mil itens acumulados e preservados ao longo de mais de 150 anos. Inclui os arquivos pessoais de Gilberto Ferrez, do seu pai, tio e avô, respectivamente, Júlio, Luciano e Marc Ferrez, além do arquivo da firma comercial que possuíam - Marc Ferrez & Filhos.
http://bases.an.gov.br/ferrez//ficha_tec_pesq2.php
CONDÉ, William Nunes. Marc Ferrez & Filhos: Comércio, distribuição e exibição nos primórdios do cinema brasileiro (1905-1912). 2012. Tese de Doutorado. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.
LENZI, Maria Isabel Ribeiro. Para aprendermos a história sem nos fatigar: a tradição do antiquariado e a historiografia de Gilberto Ferrez. 2013.
VASQUEZ, Pedro Afonso. Do Império à República: Família Ferrez, uma dinastia a serviço da cultura brasileira. Acervo, v. 23, n. 1 jan-Jun, p. 109-118, 2011.