As películas cinematográficas (produzidas com filme fotográfico cuja base é o acetato de celulose) foram utilizadas durante anos para a produção de programas de televisão de uma forma geral, antes da disseminação da tecnologia de vídeo, na década de 1960. Assim, ao contrário do que aconteceria com parte do acervo em vídeo das emissoras de televisão, que se perdeu em consequência da reutilização das fitas, a produção registrada em película permaneceu a disposição das gerações futuras. Contudo, se películas não podem ser reaproveitadas, podem se deteriorar, dependendo das suas condições de armazenamento.
O fundo TV Tupi do Arquivo Nacional é constituído por material sonoro e filmográfico oriundo da antiga emissora. Além de material em película, fitas quadruplex e umatic também compõem o acervo. Em 1986, ocorreu a primeira etapa da doação, realizada por ex-funcionários da Tupi, que consistia apenas de material em filme.
A primeira e, possivelmente, mais importante etapa a ser realizada diante de um acervo formado por películas é a avaliação e diagnóstico na mesa revisora. Neste momento o material também passa por identificação básica (se é 16 ou 35 mm, preto e branco ou cores, etc), e no caso da Tv Tupi, constatou-se que todos os rolos eram 16 milímetros em preto e branco. Também é realizada a limpeza do material, que remove sujeiras acumuladas.
O diagnóstico indica o estado de conservação do filme e o que pode, ou deve, ser feito com o material: dependendo do seu estado, o filme pode não mais ser salvo, e nem mesmo passar por um processo de digitalização que preserve a informação nele contida. É preciso isolar o material em caso de contaminação por fungos, que podem espalhar-se e infestar outros acervos, até que as condições de armazenamento ideais (temperatura e umidade controladas, em nível baixo) estabilizem o processo.
Na época do recebimento da primeira leva da Tv Tupi, as películas passavam por um processo de telecinagem, que implicava em copiar o conteúdo para vídeo. Atualmente, elas são digitalizadas para que se criem cópias de acesso e para que toda a informação seja preservada. O material original permanece armazenado em depósitos climatizados, para que o processo de deterioração (caso exista) seja estabilizado. Quando chegou ao Arquivo Nacional, parte do acervo da Tupi já se encontrava em processo de deterioração e infestação por fungo, situação estabilizada na instituição. No entanto, como no exemplo aqui utilizado (filme sobre a repressão a guerrilha do Caparaó durante a ditadura militar), o estrago é visível mesmo nas películas que ainda permitiram o processo de digitalização. Em alguns casos, contudo, o material foi irremediavelmente perdido.
Os maiores problemas a serem enfrentados em um acervo formado por filmes são: o encolhimento da fita (que impede seu manuseio adequado e a utilização de equipamentos de reprodução e cópia), a síndrome do vinagre (liberação do ácido acético por degradação química, resultando na perda da qualidade das imagens, estando também na origem das deformações dos filmes), e dissolução da emulsão utilizada na revelação do filme que pode avançar inclusive para casos em que a emulsão e o suporte (no caso, película) cristalizam-se. Nenhum destes processos é passível de reversão, apenas de estabilização. Daí a necessidade de digitalizar o acervo, de forma que a informação nele contida seja preservada.
Atualmente o Arquivo Nacional não desenvolve projetos de restauração, apenas de preservação/ conservação/ reformatação. Há casos em que o documento foi totalmente perdido, e neste caso, é encaminhado para descarte, seguindo as normas arquivísticas em vigor.
O acervo do Arquivo Nacional pode ser consultado on line, assim como o seu histórico.
Película: cerco aos guerrilheiros em Caparaó, Minas Gerais, em abril de 1967.
BR RJANRIO NO.0.FIL.445
Tv Tupi.
Fotografias: mesa de revisão do Arquivo Nacional; película deteriorada por ressecamento e dissolução de emulsão.
Com a colaboração de Fátima Taranto, Marcus Alves e Mauro Domingues, da equipe de Preservação de filmes do Arquivo Nacional.