Já ouviram falar em fotografia esteroscópica? O par de imagens acima, que reproduz visões ligeiramente diferentes de uma mesma cena – no caso, a recém aberta Avenida Central –, é um estereograma, um das principais meios de propagação da fotografia, sobretudo na virada do século XIX para o século XX.
Obtidos através de uma câmera com duas lentes separadas entre si por cerca de 6,3 cm – a distância média que separa os olhos humanos –, esses pares de imagens eram vistos, simultaneamente, com o auxílio de um visor binocular (aparelhos esteroscópicos) que superpunha as duas imagens bidimensionais dando uma ilusão de tridimensionalidade (VASQUEZ, 2002). A técnica foi apresentada ao público em 1851, durante a Exposição Universal de Londres, por David Brewsted e logo introduzida no Brasil. O fotógrafo alemão Revert Henrique Klumb foi pioneiro no desenvolvimento da técnica no país, documentando, ainda na década de 1850, a cidade do Rio de Janeiro e a família imperial.
A república recém-proclamada também utilizou-se da fotografia para produzir e divulgar uma nova imagem do Brasil associada, sobretudo, à civilização, ao progresso material e à modernidade. O processo de urbanização da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, foi amplamente registrado por fotografias, utilizadas como instrumento de comunicação de massas, disseminando os signos da nova ordem.
A fotografia tridimensional era um dos símbolos dessa modernidade e logo se popularizou. Famílias mantinham em suas salas de visita os aparelhos esteroscópicos e as caixas ou coleções de vistas, uma nova forma de lazer a partir da espetacularização do ato de ver. Extensas coleções de estereogramas foram produzidas, distribuídas e comercializadas, muitas vezes com uma finalidade propagandística, como no caso da marca de cigarros Veado, de propriedade do conde de Agrolongo, que oferecia pequenas fotografias estereoscópicas (2,5 x 7 cm) em seus maços, muitas das quais de sua própria autoria (PARENTE, 1999).
Na esteira do conde de Agrolongo, uma série de cartões esteroscópicos de autores desconhecidos foi organizada pela tipografia Rodrigues & Co, tendo como tema a capital da República na virada do século. No formato internacional de 9 x 18 cm, os estereogramas fizeram parte de campanhas publicitárias de empresas nacionais que ofertavam aos seus clientes as fotografias (PESSANHA, 1991).
O Arquivo Nacional guarda em seu acervo estereogramas do final do século XIX e início do XX em diferentes fundos. Na coleção Fotografias Avulsas (O2), por exemplo, estão preservados exemplares da série editada pela Rodrigues & Co, entre outras. São cerca de 120 fotografias binoculares que retratam vistas da cidade e suas adjacências; as novas construções da capital, vitrine do Brasil, e aspectos da Exposição Nacional de 1908 que pretendeu mostrar o progresso, a ciência e a técnica alcançados pelo país. O fundo encontra-se totalmente organizado e pode ser consultado através do SIAN (Sistema de Informações do Arquivo Nacional).
Bibliografia e sugestões de leitura:
KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
PARENTE, José Inácio. A esteroscopia no Brasil. Rio de Janeiro: Sextante, 1999.
PESSANHA, Maria Edith de Araújo. A esteroscopia: o mundo em terceira dimensão. Rio de Janeiro: M. E. A. Pessanha, 1991.
VASQUEZ, Pedro Karp. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.