A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, decorreu de delicadas e controversas negociações com os Estados Unidos, para quem a participação do país era crucial em função da posição estratégica da região norte/ nordeste do Brasil, e também como forma de garantir que sua influência política e militar se consolidasse não apenas no Brasil, mas em todo o subcontinente sul-americano.
A convenção militar assinada em maio de 1942 estabelece uma intensa colaboração entre os dois países, determinando a criação de uma comissão militar cujas análises resultariam na melhoria técnica e material das forças armadas e no uso de instalações navais e aeronáuticas brasileiras. Além da cooperação militar, a entrada do Brasil na guerra envolveu uma série de acordos entre os dois países, que estabeleciam um fluxo de empréstimos para o Brasil e de matéria prima necessária aos esforços de guerra para os Estados Unidos.
No ano seguinte, após negociações entre Vargas e o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, uma força militar brasileira foi criada para ser enviada ao teatro de guerra europeu. Getúlio, no entanto, condicionou o envio das tropas brasileiras ao reaparelhamento das forças armadas. Criada em agosto de 1943 sob comando do general Mascarenhas de Moraes, a FEB (Força Expedicionária Brasileira) lutou na Itália junto ao 5º Exército norte-americano, comandado pelo general Clark. As primeiras tropas da Força Expedicionária Brasileira embarcaram em direção a Europa em julho de 1944, a bordo do navio norte-americano USS General Mann, seguidos por outra leva de soldados em setembro do mesmo ano, a bordo do USS General Meigs. Além de infantaria e artilharia, também contava com participação de mulheres nas enfermarias, o que suscitou na época enorme oposição, inclusive dos próprios médicos.
A estruturação da FEB marcou o início da influência dominante norte-americana sobre as forças armadas brasileiras. Oficiais foram enviados aos Estados Unidos para treinamento e familiarização com a doutrina e os métodos militares daquele país, substituindo a antiga tradição militar francesa, até então predominante no Brasil. Os oficiais passaram três meses na Escola de Comando e Estado-Maior de Fort Leavenworth.
Os efeitos mais duradouros deste acordo militar não foram alterações nas táticas de guerra ou no equipamento utilizados pelas nossas forças armadas. Uma nova concepção de organização da corporação militar seria desenvolvida a partir desta aproximação: em 1946 foi introduzido o conceito de Estado-Maior Conjunto, sendo criada a Escola Superior de Guerra - ESG, cujo modelo se espelhava na Escola Nacional de Guerra dos EUA em Washington. É a partir deste momento que as forças armadas deixam de ter um papel marginal, quase instrumental (em golpes e quarteladas), na política brasileira para assumir um papel determinante no jogo do poder, arvorando-se o direito de decidir quem era ou não adequado para decidir os rumos da nação.
O momento capturado pelas lentes da Agência Nacional a bordo do USS General Meigs e aqui exposto mostra um instante de descontração entre os soldados brasileiros, ainda alheios aos horrores do teatro da guerra. Muito voluntários engajaram-se na luta por patriotismo mas, principalmente, pela esperança de uma vida melhor. Seu retorno, contudo, foi marcado pelo desdém dos seus compatriotas e por um apagamento social e político promovido sutilmente pelo próprio governo, desejoso de desmobilizar uma força expressiva e potencialmente relevante no cenário da época, além de terem enfrentado em muitos casos um mesquinho ciúme por parte dos próprios militares, que ignoraram todas as orientações recebidas dos norte-americanos em relação a como receber e reintegrar os soldados, incluindo atenção específica a sua saúde.
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Expedicionários a bordo do navio USS General M.C. Meigs. 11/12/1944
Ferraz, Francisco César. A guerra que não acabou. Eduel, 2012.
Oliveira, Denison. Reintegração social do ex-combatente no Brasil: o caso da Secretaria de Assistência da Legião Paranaense do Expedicionário. https://revistas.ufrj.br/index.php/mp/article/view/33876