O período que se inicia com o final da Segunda Guerra Mundial foi marcado, no Brasil (e em outros países da América Latina) por intensa discussão acerca do desenvolvimento, cultura e identidade nacionais, temas em geral abordados de forma indissociável. Diferentes correntes debatiam uma cultura popular legítima e original, em contraponto à massificação e importação de produtos da indústria cultural dos Estados Unidos e outros países mais ricos, assim como modelos de desenvolvimento mais ou menos dependentes, mais ou menos excludentes – e, principalmente, quais caminhos nos levariam a quais destinos. Em especial ao longo dos anos 1950 e início dos 1960, tais debates – teóricos, conceituais e acadêmicos mas com um forte viés ativista – envolveram a esfera política, mas também artistas, intelectuais, estudantes, operários e ativistas diversos.
Neste contexto ocorreu a aproximação entre ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiro, think tank criado pelo Ministério de Educação e Cultura em 1955) e UNE (União Nacional dos Estudantes), um movimento quase “natural”, considerando que naquele ambiente democrático e de crescimento econômico/ industrial a participação da comunidade acadêmica – incluindo estudantes - tornava-se crucial. No início dos anos 1960 ambas as entidades filiavam-se abertamente às correntes políticas progressistas e de esquerda, e percebiam a cultura e identidade brasileiras, especificamente o que consideravam cultura e identidade popular, como chave para o progresso e o desenvolvimento inclusivo do nosso país.
Em 1961, ano em que Jânio Quadros renuncia após poucos meses de mandato e João Goulart assume a Presidência – a muito custo, diga-se de passagem – a UNE cria seu Centro Popular de Cultura, foco de mobilização política via criação artística e intensa atividade cultural, buscando a “conscientização das classes populares” em busca de uma verdadeira “arte revolucionária.” O coletivo leva peças de teatro a comunidades periféricas e instalações fabris; vende poesia a preços populares; incentiva o cinema engajado através da produção de filmes auto-financiados; grava músicas de protesto. O projeto, nascido no Rio de Janeiro, teve em sua origem forte participação do grupo de teatro Arena e marcante influência do Movimento de Cultura Popular de Recife, criado por Ariano Suassuna, Germano Coelho, Paulo Freire e outros. Entre os artistas envolvidos no CPC: Carlos Lyra, Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis, Carlos Estevam, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Ferreira Goulart, Carlos Vereza.
Em 1964 o golpe militar encerra a experiência do CPC, interrompe a trajetória da UNE e passa a prender e perseguir implacavelmente estudantes, intelectuais, artistas, operários e camponeses que ousavam questionar os rumos da nação.
Segundo o SIAN, “O povo canta” foi um trabalho musical composto por Carlos Lyra, Francisco de Assis, Billy Blanco, Rafael de Carvalho, Geni Marcondes e Augusto Boal. Por um longo período este inocente disquinho foi considerado “material subversivo.”” “Subdesenvolvido”, composta por Carlos Lyra e Chico de Assis em 1961, traz a tona nosso passado colonial e o (então) presente subdesenvolvido, dependente e subserviente à (então) potência norte-americana.
BR RJANRIO Q8.0.DSO.8 - O Subdesenvolvido - O Povo Canta
Música O Subdesenvolvido – Faixa 1 do disco \"O Povo Canta\"e capa do compacto de mesmo nome