Entre 1968 e 1973, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu, por ano, em média 11% - uma taxa espantosa. Este crescimento vertiginoso fez-se acompanhar por uma queda na inflação, diminuição do desemprego e aumento no superávit na balança comercial. Em consequência, este período ficou conhecido por “milagre” (brasileiro) – muito em função dos usos políticos que os governos fizeram deste crescimento econômico. Na época, integrou as intensas campanhas publicitárias que enalteciam a ditadura militar em que os brasileiros viviam. Embora os aspectos que possibilitaram o “milagre” tenham sido variados, não havendo concordância em torno de quais fatores econômicos e conjunturais permitiram sua existência, em geral admite-se que a concentração de poderes no executivo desempenhou papel fundamental, já que permitia ampla margem de manobra em termos de política econômica, fiscal, cambial e na repressão ao movimento sindical. Vale lembrar que, apesar do crescimento econômico e da queda de desemprego, este período foi marcado por um intenso processo de concentração de renda e arrocho salarial.
Por trás do crescimento e mesmo da queda do desemprego, havia uma política sistemática de perdas salariais reais, em especial dos trabalhadores menos instruídos, possibilitada pela centralização e pelo autoritarismo, que permitiu a imposição de métodos de cálculos de reajuste salarial em relação a inflação, causando perda do poder de compra. Este método deu origem ao que ficou conhecido como “arrocho salarial.” Em consequência dessa política, que prejudicou especialmente a mão de obra menos qualificada, o país conheceu um processo impiedoso de concentração de renda: o índice Geni (utilizado internacionalmente para medir a desigualdade) pulou de 0,54 em 1960 para 0,63 em 1977. Acentuando a desigualdade, não houve um investimento em uma educação (em especial superior) de acesso democrático e amplo, e qualificação profissional que permitisse um aperfeiçoamento da indústria, a continuidade dos ganhos de produtividade e o aumento futuro de salários.
O período do “milagre” correspondeu, em sua maior parte, ao governo de Emílio Garrastazu de Médici, com o ministro Delfim Neto à frente da política econômica no ministério da Fazenda. O princípio de “fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo", como ele dizia, orientou a política econômica por anos intermitentes (1967/ 1974, 1979/1985), mesmo após o fim do “milagre” e o início da recessão, já na década de 1980. Já João Paulo dos Reis Veloso, ministro do Planejamento de Médici elaborou, com o renomado economista conservador Roberto Campos, o I Plano Nacional de Desenvolvimento, que orientou várias ações que possibilitaram o crescimento. Seguindo uma cartilha desenvolvimentista mas com ênfase na dependência do capital internacional, o plano também enfatizava a importância de grandes obras de infra-estrutura que, além de impulsionarem a produção, potencialmente funcionavam como propaganda das ações do governo. Usinas como Itaipu, estradas como a Transamazônica (um fracasso) e pontes como a Rio-Niterói (oficialmente batizada de Costa e Silva, em homenagem ao ditador) são apenas alguns exemplos.
Em 1973 uma crise internacional deflagrada pela elevação do preço do petróleo interrompe o ciclo de crescimento e vai além, tornando disfuncional o modelo brasileiro de desenvolvimento dependente de endividamento externo. Contudo, como o crescimento econômico era pedra angular do que havia de legitimidade da ditadura militar, decidiu-se continuar com o processo de endividamento para financiar a expansão, o que por conta da elevação acentuada dos juros simplesmente não funcionou. Embora a crise e a conta deste endividamento só chegassem na década seguinte, deixando uma conta pesada a ser paga pela democracia, o país não mais cresceu a taxas registradas no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970.
BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PPU_02778_d0005de0012 Antônio Delfim Netto, ministro da Fazenda, fala no Fundo Monetário Internacional. Setembro, 1967.
BR_RJANRIO_EH_0_FOT_PRP_09188_d0003de0003 Presidente Artur da Costa e Silva (1967-1969) no Estado da Guanabara: preside reunião com Antônio Delfim Neto, ministro da Fazenda, Mário Davi Andreazza, ministro dos Transportes, e Nestor Jost, presidente do Banco do Brasil, Palácio Laranjeiras, Rio de Janeiro, GB. Julho de 1969.
BR_RJANRIO_J9_0_APR_0029_D0001DE0001 (LINK) Páginas da revista O Cruzeiro, com matéria sobre medidas tomadas por Delfim Neto e os problemas que surgiram na época. Novembro de 1973. José Amádio.