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Em 1980, a inflação no Brasil acumulou 100% em um ano – a maior alta histórica até aquele momento. Mal sabiam os brasileiros que ao longo da década, e até os primeiros anos da década seguinte, esta taxa anual se reproduziria em apenas um mês. Em 1990, dez anos depois, ela chegou à impressionante marca de 1621%. O país detinha o mais elevado índice no mundo naquele período.

No início da década de 1980, o Brasil vivia uma abertura “lenta, segura e gradual” sob o atento olhar e o ostensivo controle das forças armadas. O presidente, João Batista Figueiredo, era um general oriundo do SNI a quem coube levar a cabo o processo de redemocratização e retomada do poder político institucionalizado pelos civis. Seu antecessor, o general Ernesto Geisel (1974-1979), ainda conseguira se beneficiar, mesmo que de forma limitada, da popularidade que os anos de “milagre econômico” concederam à ditadura militar nos primeiros anos da década de 1970. Mas a crise assomava no horizonte, já desde a crise do petróleo de 1973, e 1980 anunciava as dificuldades que estavam por vir.

O modelo de desenvolvimento nacional baseava-se, em menor ou maior escala a depender do posicionamento político do governo vigente, de capital internacional. Os governos militares contavam amplamente com o aporte externo, o que juntamente com outros fatores (o planejamento rígido da economia e da produção explicitados pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento 1 e 2 no final dos anos 1960 e início dos 70) explica em parte o assombroso crescimento econômico do “milagre brasileiro.”

Entretanto, a fonte começou a secar em 1973, com a já citada crise, e em 1979, quando da segunda crise do petróleo que, juntamente com outros fatores relacionados à economia e política norte-americanas, não apenas estancou o fluxo de capital para países em desenvolvimento como elevou a taxa de juros em todo mundo, efeito dominó a partir dos próprios Estados Unidos. Países que não contavam com moeda forte eram particularmente vulneráveis, pois a inflação passou não apenas a corroer o valor de compra da moeda mas a própria moeda. Na pressa de se livrar de algo que perdia valor dia a dia (literalmente) todo o dinheiro disponível era gasto velozmente, criando um círculo vicioso no qual a emissão descontrolada de moedas por parte do governo, na tentativa de suprir a falta de financiamento, também  desempenhava um papel crucial.

Nos primeiros anos da década de 1980 os governos tentaram controlar a inflação seguindo medidas ortodoxas que envolviam juros ainda mais altos e contenção dos gastos públicos. A ortodoxia, sob liderança de Delfim Neto e Mário Henrique Simonsen, não funcionou e o Brasil – e outros países com questões estruturais similares – combinou dois fatores que até então eram considerados, pela economia clássica, incompatíveis: inflação galopante e recessão econômica. Nova linhas de análise, heterodoxas, começam a prevalecer a partir de 1985, buscando compreender a “inflação inercial – tendo como principais autores Luis Carlos Bresser-Pereira, André Lara Resende, Francisco Lopes e Pérsio Arida –, na qual não há uma relação direta entre oferta e demanda de bens e moedas; a nova teoria defendia a existência de uma fator que não era considerado, que é chamado de memória inflacionária – existe na inflação, naquele momento, uma interferência da inflação experimentada, por exemplo, no mês anterior. Desta maneira, essa mudança de concepção, referente à origem da inflação, vai aparecer em todos os planos implementados a partir de 1985. Serão as novas receitas para se combater a inflação.” 

Não há uma fórmula mágica para lidar com a inflação, ou com outros problemas econômicos que podem assolar a economia de um país. Depende sempre da origem do problema e, principalmente, da concepção de sociedade defendida. Delfim Neto, por exemplo, defendia que era preciso fazer crescer o bolo (a economia) para então dividi-lo, resultando em um crescimento desigual e excludente. Assim que o bolo parou de crescer, sem que houvesse sombra de tentativa de dividi-lo, aqueles que haviam ficado de fora das benesses do milagre brasileiro foram os primeiros a pagar a conta.

O filme aqui apresentado representa uma produção comum na época, uma tentativa de demonstrar que a economia estava sob controle e que o país tinha tudo para voltar a crescer.

BR_RJANRIO_U3_0_FIL_FIT_0266_d0001de0001. Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República

Assista no youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=yOO5Ekikq1Y&list=PLQatXEugAYdfeMHb23ZyHaQfj-9uVMRaV&index=64

 

 

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