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Após uma década que se iniciou sob uma ditadura civil instalada em 1937, foi atravessada por uma guerra mundial da qual o Brasil fez parte e viu uma nova constituição reinstalar a democracia em 1946 o último carnaval daquele decênio não foi diferente dos outros em termos de música e animação. Contudo, a festa que se popularizou nas primeiras décadas do século XX – a partir do velho entrudo do século XIX – já não era a mesma, consoante com uma sociedade que começava a aderir ao paradigma urbano-industrial modernizador.

O Brasil começa a apresentar uma nova face ao mundo e a si mesmo, enquanto projetos de desenvolvimento e de construção de uma identidade nacional disputavam a arena política e cultural. O samba nascido no Rio de Janeiro foi um aspecto crucial deste processo em que um país com uma identidade mais original e ao mesmo tempo, moderna, buscava se impor. O carnaval passou a ser uma festa nacional, e a então Capital Federal, seu palco privilegiado.

O período marcou o início da ascensão das escolas de samba. Se antes desfilavam na acanhada (mas animada) praça Onze, a partir de 1943 o desfile passou a ser na recém inaugurada – e gigantesca – avenida Presidente Vargas. Segundo Guimarães, “O carnaval carioca absorve essas mudanças com a ascensão das escolas de samba e o novo espaço para desfile, a Avenida Presidente Vargas. Oficializado como festa-símbolo da cidade, o carnaval atrai as atenções dos grupos que dividem os espaços centrais da cidade e disputam as subvenções oficiais. As escolas de samba se adequam à nova mentalidade política e fundam a União das Escolas de Samba (1934) com 28 agremiações e estatuto que regulamentava sua finalidade e a apresentação de suas filiadas. Acompanhando o movimento pela nacionalização, as escolas incluem nesse estatuto a “obrigação de, nos enredos, as escolas de samba apresentarem motivos nacionais” e ainda outros elementos, como a obrigatoriedade da presença das baianas e a proibição dos instrumentos de sopro. A essas ações soma-se o pedido de oficialização do desfile junto à prefeitura, o que lhes daria o direito à subvenção, como acontecia com as sociedades, os ranchos e blocos.”

Desde os primeiros anos da década de 1940 a prefeitura começa a oferecer uma decoração carnavalesca elaborada e extensa, indo além dos enfeites nos coretos dos bairros de subúrbio e linhas de luzes coloridas. A ornamentação para o carnaval de rua ficou sob responsabilidade do arquiteto-decorador Flavio Leo da Silva e pelo cenógrafo Oscar Lopes, o que concedeu originalidade e coerência à decoração em toda a cidade. Além da avenida Presidente Vargas, a avenida Rio Branco também se torna um palco central do espetáculo em que se tornava o carnaval.

O carnaval de 1949 já incorpora uma festa em que a celebração popular desordenada vinculava-se a um projeto político e intelectual que buscava domesticar as massas e transpor, mesmo que veladamente, as hierarquias políticas e sociais para aquela que se tornara a manifestação cultural brasileira por excelência.

Carnaval de 1949 no Rio. Desfile de blocos na Avenida Rio Branco durante o dia e à noite. Pinguim filmes. Fundo Elysio Martins

Guimarães, H. M., & Santos Filho, R. D. dos. (2012). CARNAVAL NOS ANOS DE 1940: AS MUITAS FANTASIAS DE UM RIO FOLIÃO. Textos Escolhidos De Cultura E Arte Populares, 9(1). https://doi.org/10.12957/tecap.2012.10274

 

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