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Influenciar a opinião pública através de uma difusão controlada de informação, utilizando intensa simbologia, meias verdades (ou mentiras abertas) ou fatos consagrados, imagens e discursos – enfim, um conjunto de dados e situações articulados de forma a convencer o público através da razão e da emoção, do afeto configura uma prática extremamente comum no mundo moderno: a propaganda. Seja para vender produtos e serviços, arregimentar eleitores ou construir o consentimento ou a adesão a projetos políticos a propaganda busca convencer ou arrebatar as pessoas em torno de um determinado tema, ideia, proposta. Convencer da compra de um desodorante específico em detrimento de outras marcas – perfume melhor, resultados melhores junto ao sexo oposto, indicador de status, qual seja a qualidade – é um processo que envolve informação direta, imagens (em nossa sociedade profundamente visual e midiatizada), e sons que buscam convencer o consumidor a tomar uma decisão aparentemente racional mas carregada de escolhas emocionais (a propaganda pode transmitir suavidade, feminilidade, sofisticação, virilidade, e esse tom vai de encontro ao seu público). 

A arena política construída a partir das instituições liberais modernas pretende operar no universo de escolhas racionais baseadas no acesso a informações precisas disponíveis a todos em igual medida – em um mundo ideal. Contudo, a democracia em uma sociedade de massas – como o século XX deixou bastante claro – funciona muito mais na base da sedução e da emoção do que em argumentos racionais e comprovações de fatos.

O mundo digital do século XXI tem nos mostrado que esta lógica continua a dominar a esfera política, de forma cada vez mais exacerbada.

Governos autoritários tradicionalmente primam pelo uso da propaganda como forma de construir algum tipo de legitimidade e consentimento, enfatizando supostos ganhos do regime dominante enquanto justifica ou obscurece graves questões sociais e a repressão política. No Brasil, a propaganda exacerbada durante nossas ditaduras produziu filmes, música, livros, programas de televisão. Durante a ditadura militar, a produção oficial de propaganda também rendeu campanhas de utilidade pública que marcaram nossos hábitos: boas práticas de higiene, a importância da vacinação, o respeito a leis de trânsito como forma de salvar vidas, o cuidado com o patrimônio público e o espaço que compartilhamos com outras pessoas.

O fundo Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República possui milhares de registros oficiais dos governos militares entre 1967 e 1985 entre películas e fitas U-matic/ Betacam. O fundo está parcialmente organizado e alguns filmes, digitalizados e disponíveis no SIAN. Três subséries contêm material específico de 3 presidentes e seu dia a dia, eventos, atos, reuniões: Emílio Médice, Ernesto Geisel e João Figueiredo. As subséries Documentário e Filmetes institucionais contêm registros (anos 1970 e 1980, respectivamente) do Brasil no período, enfatizando as belezas e o progresso de todas as regiões do país, os investimentos e programas sociais do governo, a atuação dos vários ministérios. Também eram veículo para as campanhas de saúde pública (higiene, vacinação), de “moral e cívica” (o respeito ao patrimônio público, a convivência harmoniosa, o respeito às leis e instituições) e os eventos patrióticos apoiados ou promovidos pelos governos militares (como os desfiles de Sete de Setembro).

BR_RJANRIO_U3_0_FIL_FIT_0363 - Campanha institucional pela conservação do patrimônio público - Recife, 1984. Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República.

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