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Forma de expressão cultural afro-brasileira, o jongo é conhecido por diferentes nomes – como caxambu ou batuque, por exemplo – e mistura percussão de tambores, dança de roda e elementos mágico-poéticos. Próprio do sudeste brasileiro, sobretudo das regiões do vale do rio Paraíba e do norte do Espírito Santo, consolidou-se entre os escravos de língua bantu que trabalhavam nas lavouras de cana-de-açúcar e café.

Forma de louvação dos antepassados, através de enigmas cantados em pontos e gestos coreográficos da umbigada, as rodas de jongo revelaram-se espaços privilegiados de reunião entre os escravizados e, de temor pelos brancos, que viam nesses ajuntamentos locais uma forma de organização de africanos e descendentes visando desordens ou rebeliões, daí os sucessivos regulamentos municipais com o intuito de coibir encontros de “dança e candombes”.

O etnomusicólogo Paulo Dias, em seu estudo sobre a aproximações entre o jongo brasileiro e o ondjango angolano, resgata significados primevos do termo, como casa ou lugar de reunião comunitária, de uso coletivo e dialogado da palavra. Essas assembleias, “disfarçadas” de festas de tambores e danças de divertimento – elementos que estavam presentes, mas não somente – sobreviveram ao projeto “civilizatório” e de cerceamento de manifestações culturais africanas do escravismo colonial brasileiro.

Após a abolição da escravidão, o jongo sofreu um processo de urbanização, acompanhando a migração dos libertos em direção às cidades próximas às antigas fazendas e, até mesmo, para a capital da República. Buscavam uma alternativa econômica, já que escasseava o trabalho no campo. Os que permaneceram, lutam, ainda hoje, pelo acesso à terra e à economia camponesa.

As imagens em movimento que selecionamos pertencem ao fundo Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa, fizeram parte do programa “Arte de A a Z", edição de novembro de 1979. Uma entrevista com vovó Maria Joana (1902-1986) do morro da Serrinha, em Madureira, no Rio de Janeiro, onde ela conta um pouco de sua história e a relação do jongo com as religiões de matriz cultural africana, além de cantar um ponto de jongo, acompanhada do som do atabaque.

Sua casa na comunidade foi lugar de sociabilidade e de resistência da memória jongueira, onde se reuniam familiares, vizinhos e amigos. Os encontros promovidos ao longo dos anos garantiram a preservação e reinvenção dessa tradição permitindo que a Serrinha fosse a última comunidade urbana do Rio de Janeiro a preservar o jongo, fortalecendo os laços identitários entre os seus praticantes.

Em 2005, o jongo foi reconhecido pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural brasileiro, incluído assim no conjunto de manifestações formadores da identidade nacional.

 Notação do vídeo: BR RJANRIO FS.0.FIL.289.0001

 Leia mais em:

Dias, Paulo. O lugar da fala: conversas entre o jongo brasileiro e o ondjango angolano. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. USP, dezembro de 2014.

Sousa, Aline Oliveira de. Tia Maria do Jongo: memórias que ressignificam identidades das atuais lideranças jongueiras do grupo jongo da Serrinha. Dissertação apresentada à Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2015.

BRASIL, Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Jongo no Sudeste. Dossiê IPHAN. Brasília, DF: IPHAN, 2007.

 

 

 

 

 

 

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