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Hevea brasiliensis. Ou, seringueira. Este é o nome da árvore nativa das Américas, em especial, da bacia do rio Amazonas que atraiu milhares de investidores e trabalhadores para a região. Já em 1827 o Brasil começou a exportar o látex extraído das árvores – a borracha, e em 1830 a introdução da vulcanização (que permitiu a fabricação de pneus) aumentou a demanda externa e alimentou o notável crescimento demográfico da região norte, em especial, das cidades de Belém e Manaus. Esta última contava com cerca de 3 mil habitantes em 1830; em 1880, já seriam 50 mil. No início do século XX, 30 mil toneladas do látex da seringueira eram exportadas para várias partes do mundo. No entanto, a exclusividade da região na produção de borracha havia sido quebrada na década de 1880, quando emissários do Império Britânico contrabandeiam sementes da árvore amazônica e desenvolvem plantações em seus territórios na Ásia. A partir do início do século XX, a atividade lentamente entra em declínio, esvaziando a região dos investimentos que atraíra durante o período que vai do final do Império ás primeiras décadas da República.

O período de expansão econômica e demográfica resultou em alguns empreendimentos que se tornaram  icônicos, como a estrada de ferro Madeira-Mamoré, o atual mercado Ver o Peso de Belém, o Teatro Amazonas em Manaus, entre outras edificações faustosas que buscavam transmitir a ideia de modernidade, riqueza e desenvolvimento da região. As abastadas elites locais comparavam-se com a Corte (e, posteriormente, Distrito Federal) e quiçá às capitais europeias. Segundo Loureiro, “no Teatro Amazonas, maravilha da arquitetura kitsch, naquele ano de 1908 apresentava-se, para uma tournée, a empresa Juca Carvalho, do Teatro São José, do Rio de Janeiro, que se intitulava, pomposamente, de grande companhia de operetas, mágicas, vaudevilles e revistas".

Em 1882, concorrência pública para a construção do novo teatro de Manaus foi vencida por Bernardo Antônio de Oliveira Braga com projeto do Gabinete Português de Engenharia de Lisboa. A construção tem início 2 anos depois, mas seria interrompida por quase uma década por questões burocráticas e técnicas. Em 1892, o então governador Eduardo Gonçalves Ribeiro decide retomar as obras, importando mais de duzentos operários e técnicos estrangeiros e também de outras regiões do país, além do artista brasileiro Crispim do Amaral para obras de decoração, pintura, ornamentação e mobiliário do Teatro. Finalmente inaugurado no último dia de 1896, sua primeira apresentação pública foi a opereta La Gioconda, de Amilcare Poncinelli, com a Companhia Lírica Italiana. Nos últimos anos do século XIX, o pintor italiano Domenico de Angelisé foi contratado pelo governo para decorar o Salão Nobre do Teatro Amazonas.

O Teatro Amazonas segue o estilo eclético, muito em voga na época. Possui uma cúpula em cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas nas cores da bandeira brasileira. Como boa parte do material usado na sua construção, foi importada da Europa. Os 198 lustres e o mármore de Carrara das escadas, estátuas e colunas são da Itália. Um dos panos de boca foi confeccionado em 1894 pelo artista brasileiro Crispim do Amaral, e representa o encontro dos rios Negro e Solimões. Já o teto do salão nobre foi pintado por Domenico de Angelis, artista italiano responsável por vários trabalhos de decoração no norte do Brasil, em 1899, e recebeu o nome “A glorificação das Bellas Artes da Amazônia”.

Reportagem produzida pela Agência Nacional mostrando as obras de restauração do Teatro Amazonas, em Manaus, em 1974. Brasil Hoje nº 55 (1974). Arquivo Nacional. Fundo Agência Nacional. BR_RJANRIO_EH_0_FIL_BHO_055

 LOUREIRO, AJS. A grande Crise (1906-1916). Manaus, T. Loureiro &Cia, 282p, 1986.

SERÁFICO, José. Teatro Amazonas: símbolo de quê?. Ciência e Cultura, v. 61, n. 3, p. 37-40, 2009.

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