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 O Museu Real criado por d. João VI no Rio de Janeiro de 1818 poderia ser descrito mais como um gabinete de curiosidades do que propriamente um museu de “história natural”, na sua concepção típica do século XIX de reunião de espécimes de fauna e flora que possibilitem o estudo das mesmas. Abrigado inicialmente no Campo de Santana, recebeu itens de coleções privadas das famílias que vieram de Portugal e, principalmente, coleções das Casa dos Pássaros, criada em 1784 pelo Vice-Rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa. Assim, seu acervo inicial constituiu-se de coleções de aves empalhadas, objetos de arte, exemplares minerais e numismáticos. Ao longo do século XIX, acompanhando a própria evolução do Estado nacional, o Museu (que se tornou Imperial e depois, Nacional) tornou-se uma instituição de pesquisa e formação científica, abrindo seu acervo cada vez mais amplo ao público da cidade.

No início do século XX, o Museu _ já funcionando na antiga residência Imperial em São Cristóvão _ contava com o Horto Botânico, laboratórios de química vegetal, entomologia agrícola e fitopatologia, publicava a Archivos do Museu Nacional (primeiro periódico científico do país) e organizava palestras e cursos livres. Em 1907, o Museu Nacional foi convidado a participar da Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, mais conhecida como Comissão Rondon. A contribuição do Museu seria inventariar e estudar a fauna e a flora da região percorrida, integrando-a ao seu acervo, juntamente com qualquer material arqueológico e etnográfico coletado, enriquecendo exponencialmente o acervo da instituição e potencializando as possibilidades de estudos científicos.

Edgard Roquette Pinto ingressou no Museu em 1905 e integrou a Comissão Rondon em 1912, que resultou em diversos filmes (que constituíram a primeira coleção filmográfica) e pavimentou o campo de estudos de nações indígenas do Brasil no Museu. Juntamente com Bertha Lutz, Cândido de Mello Leitão, Heloísa Alberto Torres e Alberto Betim Paes Leme buscou levar o hábito e o método científico às escolas a partir do projeto de coletânea e classificação de materiais por crianças, que também as organizariam e desenhariam. Bertha Lutz tinha interesse específico na relação entre museus e educação de crianças e jovens, após uma visita aos Estados Unidos em 1933.

Em 1926 Roquete Pinto torna-se diretor do Museu, criando o Serviço de Assistência ao Ensino de História Natural do Museu Nacional Revista Nacional de Educação. Permaneceu a frente da instituição até 1935 e seu legado fortaleceu as atividades de ensino, pesquisa e divulgação junto ao público.

Seguiram-se à frente do Museu Alberto Betim Paes Leme e Heloísa Alberto Torres, diretora de 1938 até 1955. Durante seu longo mandato, a instituição se modernizou, ampliou seus campos de estudo e atraiu novos pesquisadores, tendo aberto os concursos públicos de provas e títulos para as divisões do Museu Nacional (Antropologia, Botânica, Geologia e Ecologia). Também reformou as instalações do Museu e buscou parcerias com instituições estrangeiras.

Em 1937, quando a Universidade do Brasil é criada, o Museu é incorporado à nova instituição, apenas para ser desincorporada em 1940 e reincorporada em 1946, onde permanece até hoje embora a Universidade do Brasil tenha se transformado na Universidade Federal do Rio de Janeiro.  . Tratava-se de um processo bastante formal, dado o caráter muito peculiar da nova universidade, um verdadeiro arquipélago de instituições tradicionais, muitas centenárias.

Em 1947 teve início um paulatino processo de reabertura das exposições, longamente fechadas nos anos anteriores, que só se completou na década de 1960.

O Museu passou por altos e baixos a partir dos anos 1960. Segundo Dias Duarte, “Não menos importante foi a crescente sensação de asfixia de que se ressentia o museu, obrigado a fazer conviver no Palácio de São Cristóvão coleções científicas sempre crescentes, laboratórios cada vez mais exigentes, serviços técnicos sofisticados, gabinetes de trabalho de um corpo docente em expansão, bibliotecas dinâmicas e um número crescente de programas de pós-graduação.6 Numerosas iniciativas de obtenção de prédios vizinhos para o deslocamento de suas atividades redundaram em fracasso, o que acabou forçando a instituição a lutar pela construção de novos prédios no seu entorno imediato ou na área de seu Horto Botânico.”

O Palácio de São Cristóvão, construído nos primeiros anos do século XIX, lar do Museu Nacional que comemorava 200 anos em 2018 desde 1892, ardeu em chamas na noite de 2 de setembro do ano do seu bicentenário. Muito pouco restou do edifício e do acervo de mais de 20 milhões de peças. Naquele ano o Museu vivia um período otimista, com a inauguração de uma linda exposição sobre corais brasileiros e a assinatura de um contrato do BNDES generoso o suficiente para permitir a expansão e a recuperação do patrimônio da Casa, incluindo um moderno sistema de prevenção de incêndios.

O apoio financeiro chegou tarde demais e uma das casas mais queridas do público carioca e fluminense não resistiu ao fogo devastador.

 Filme:  Cinejornal mostra o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista - RJ, em comemoração ao sesquicentenário da instituição no ano de 1968. Presença do diretor do museu José Lacerda de Araújo Feio e do presidente Costa e Silva. Jornal de informações nº 1 x 68. Arquivo Nacional. Fundo Agência Nacional. BR_RJANRIO_EH_0_FIL_CJS_0020_0001

 

Leitura recomendada:

Cunha, Murilo. (2018). Um museu em chamas: o caso do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação. 12. 1-3. 10.26512/rici.v12.n1.2019.19354.

 Duarte, Luiz Fernando DiasO Museu Nacional: ciência e educação numa história institucional brasileira. Horizontes Antropológicos [online]. 2019, v. 25, n. 53 [Acessado 8 Junho 2022] , pp. 359-384. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-71832019000100013>. Epub 25 Abr 2019. ISSN 1806-9983. https://doi.org/10.1590/S0104-71832019000100013.

 Sá, Dominichi Miranda de, Sá, Magali Romero e Lima, Nísia TrindadeO Museu Nacional e seu papel na história das ciências e da saúde no Brasil. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2018, v. 34, n. 12 [Acessado 8 Junho 2022] , e00192818. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-311X00192818>. Epub 29 Nov 2018. ISSN 1678-4464. https://doi.org/10.1590/0102-311X00192818.

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