Uma das mais notórias e trágicas greves da nossa história, o movimento de novembro de 1988 na Companhia Siderúrgica de Volta Redonda – a CSN – terminou com um saldo de pelo menos 3 mortos e toda uma cidade depredada pelo exército. Decidida no pátio da SOM (Superintendência de Oficinas Mecânicas) em 4 de novembro e iniciada no dia 7 do mesmo mês, quando os operários da CSN e da FEM (Fábrica de Estruturas Metálicas, subsidiária da CSN) cruzaram os braços, a greve de ocupação encerrou-se apenas em 24 de novembro, com uma vitória geral (embora não integral) do sindicato de metalúrgicos de Volta Redonda e Barra Mansa.
A direção da CSN solicitou liminar de “manutenção de posse” ao Juiz Moisés Cohen da 3ª Vara Cível no mesmo dia em que a greve foi deflagrada, A. Os sindicalistas citados na liminar (Juarez Antunes, Marcelo Felício e Isaque Fonseca) não tomam conhecimento da ordem e defendem a manutenção da ocupação das instalações da usina. A invasão da CSN foi levada a cabo por forças do Exército vindas do Batalhão de Petrópolis (1ª Brigada Motorizada do Exército), reforçadas por batalhões de choque da PM do Rio de Janeiro e da Companhia de Polícia do Exército, comandadas por um general que veio substituir as forças locais (batalhão de Barra Mansa) a mando do presidente da República José Sarney, que por sua vez atendia a pedidos diretos da direção da siderúrgica. Imaginava-se que o confronto seria violento mas os relatos e as imagens dos vídeos desta matéria apontam que no centro da cidade, as forças especiais agrediram a população em geral de forma violenta e indiscriminada. A reação deu-se com as únicas armas que os moradores podiam encontrar: pedras arrancadas ao calçamento. Da mesma forma, os operários sitiados dentro da CSN reagiram a agressão das tropas armadas de fuzis e metralhadoras com o material que dispunham dentro da siderúrgica, bilhas e vergões.
Os militares atiraram com armas de fogo e assassinaram 3 operários da siderúrgica dentro da própria usina: Carlos Augusto Barroso, de 19 anos, Walmir Freitas Monteiro, 27 anos, e William Fernandes Leite, 22 anos.
Nenhum culpado jamais foi preso. No ano seguinte, um monumento foi inaugurado em homenagem aos mortos, e derrubado por bombas no dia seguinte. A investigação acerca do atentado, incluindo a utilização de explosivos cedidos por quadrilhas de bicheiros do Rio, e o apontamento dos principais culpados encontra-se no relatório da Comissão da Verdade de Volta Redonda. A cidade reergueu o monumento – partido – para que a história não fosse esquecida.
O filme principal desta matéria tem por notação BR_RJANRIO_FJ_0_FIL_0001_0003: imagens da greve dos funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da invasão da cidade, Volta Redonda, novembro de 1988. No segundo video - linkado no texto, - discussão sobre a violência da invasão e as responsabilidades não assumidas, mesma data. Ambos pertencem ao fundo Ernesto Germano Parés.
Leitura recomendada:
GRACIOLLIL, Edilson José. UM CALDEIRAO CHAMADO CSN: RESISTENCIA OPERARIA E VIOLENCIA MILITAR NA GREVE DE 1988. Edufu, Uberlândia.2009.