Antes de serem palavras escritas, eram versos musicados, em geral em redondilha maior. Do último quarto do século XIX às primeiras décadas do século XX, popularizou-se sob a forma impressa. A literatura de cordel, de herança europeia que criou raízes em Pernambuco, incorpora as vozes dos repentistas e frequentemente as ilustra com xilogravura. Popular em outros estados nordestinos, essas publicações tratam praticamente de qualquer tema, de novas leis até fofocas de celebridades, passando por incidentes cotidianos e eventos climáticos. Em setembro de 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional reconheceu a literatura de cordel como patrimônio cultural imaterial do Brasil.
O cordel que aqui mostramos conta a história de Roque Santeiro e de sua viúva, que era sem nunca ter sido. Você conhece essa história? Dê sua opinião, conte o que acha. Em breve, todos os detalhes da história na seção Conte uma história do site Que República é essa?
A primeira telenovela de Dias Gomes foi “A Ponte dos Suspiros” (1969), na Rede Globo. O dramaturgo, militante comunista, usou o pseudônimo Stela Calderon para assinar a obra. Suas novelas circulavam pelo bizarro, pelo folclórico e pelo político, e inevitavelmente caíam no gosto popular. O bem amado, novela de 1973, foi alvo da censura algumas vezes; por exemplo, a personagem de Paulo Gracinado, Odorico Paraguassu, não poderia ser chamado de “coronel”, tratamento dispensado aos oligarcas no interior do Brasil. Zeca Diabo, personagem de Lima Duarte, tampouco poderia ser chamado de “capitão.” Palavras como ódio e vingança também estavam proibidas. Mas o maior ataque da censura a Dias Gomes estava por vir: em 1976, ás vésperas de estrear, a novela Roque Santeiro foi proibida de ir ao ar. A desculpa dada pelo governo federal era que a novela era uma afronta a moral e aos bons costumes, uma ofensa à Igreja. Na verdade, descobrira-se que a novela era na verdade uma adaptação do livro O berço do heróis, que os militares consideravam denegrir sua imagem.
Em 1985, a Rede Globo de televisão voltou a investir alto em uma nova tentativa de produzir a novela, montando uma cidade cenográfica no Rio de Janeiro. Com Regina Duarte, José Wilker e Lima Duarte nos papéis principais, a novela alcançou estrondoso sucesso e foi um marco na televisão brasileira.
A telenovela diária começou a ser produzida no início dos anos 1960 e logo caiu no gosto popular. A censura passou a mirar neste gênero especialmente nos anos 1970, quando as tramas deixaram de ser dramalhões surreais ou adaptações de clássicos e passaram a ser mais realistas e com tramas contemporâneas. Passatempo favorito das famílias em áreas urbanas, as telenovelas foram censuradas especialmente por questões morais – relacionamentos fora do casamento, violência e agressões, alcoolismo, hippies, filhos demasiadamente independentes, divórcio, qualquer coisa que pudesse afrontar a família brasileira era vetada. Referências a corrupção, injustiça social também eram vetadas assim como – obviamente – qualquer crítica direta ou indireta a qualquer ação do governo ou dos militares. Os censores chegaram ao cúmulo de alterar enredos, tornando o final das novelas uma verdadeira lição de moral.
A censura continuaria ativa ao longo dos anos 1980, embora muito menos ativa. Ela seria extinta apenas com a Constituição de 1988.
DE SALES SILVA, Thiago. A TV E A “CORROSÃO DOS VALORES”: A CENSURA DAS TELENOVELAS NA DÉCADA DE 1970. EMBORNAL, v. 7, n. 13, p. 110-126, 2017.
FADUL, Anamaria. Telenovela e família no Brasil. Comunicação & Sociedade, v. 22, n. 34, p. 11-39, 2000.
HAMBURGER, Esther. Telenovelas e interpretações do Brasil. Lua nova, n. 82, p. 61-86, 2011.
HAURÉLIO, Marco. Breve história da literatura de cordel. Claridade, 2018.