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Ao longo do século XX a produção cinematográfica no Brasil passou por diversas fases, tanto do ponto de vista estético como político e mercadológico. A década de 1950 representou um marco e um ponto de inovação, em que novas linguagens começaram a ser usadas e temáticas diferentes foram introduzidas, assim como inovações tecnológicas.

O Cinema Novo, que marcou a cena nos anos 1950 e 1960, trouxe para as telas questões relacionadas a desigualdade na sociedade brasileira. Sob influência da conjuntura turbulenta do país e, principalmente, do cinema europeu que na época buscava uma linguagem e uma temática próprias, o cinema nacional se transformou. Considerado um cinema independente (realizado fora de grandes estúdios e produtoras), o Cinema Novo representou um marco na produção cinematográfica nacional, lançando grandes diretores, atores e atrizes, mostrando para o mundo as graves questões sociais que norteavam as discussões políticas no país.

Muitas polêmicas marcaram, no entendo, o cinema da época. Se os adeptos de um cinema mais engajado e de propostas mais ousadas do ponto de vista estético criticavam impiedosamente o cinema popular (como as chanchadas), cineastas à margem dessa dicotomia acusavam seus críticos de arrogância intelectual e intolerância.

Você sabe quem está retratado na presente imagem? Qual sua relação com a história do cinema brasileiro?

 

Depois da Segunda Guerra Mundial, cineastas europeus começaram a produzir filmes que buscavam um engajamento maior com a realidade que os cercava, as questões políticas e sociais que marcavam o conturbado período, ao mesmo tempo em que buscavam uma linguagem  própria. Principalmente na Itália, com o neo realismo, e na França, com a nouvelle vague, novas propostas estéticas surgiram como forma de expressar estas preocupações acentuadas com a realidade.

O movimento repercutiu no Brasil e influenciou uma geração de cineastas a partir dos anos 1950 e principalmente, da década seguinte. Os debates acerca da raiz dos problemas enfrentados pela sociedade brasileira (miséria, desigualdade social, autoritarismo, violência) influenciaram a produção de toda uma geração de cineastas, não apenas do ponto de vista da temática como também da expressão estética: a “estética da fome” representou uma abordagem diferente acerca de temas relativos a miséria e violência, um caminho para se fazer um cinema desafiador e até mesmo “perigoso,” como diria Glauber Rocha, um dos expoentes do movimento.

Até então o cinema nacional era marcado por comédias, musicais, épicos históricos, tentativas de seguir a cartilha de Hollywood, a despeito de iniciativas mais originais. Em 1961, era lançado o filme Cinco vezes favela, pelo Centro Popular de Cultura da União dos Estudantes. O filme, dirigido por Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Miguel Borges e Marcos Farias foi um dos primeiros do novo movimento. Nos anos seguintes vários filmes que buscavam construir uma nova imagem do Brasil e do brasileiro (muito além dos paraísos tropicais com pessoas alegres e felizes), mostrando as favelas, a alienação, a exploração do povo surgiram nas telas brasileiras e muitas vezes alcançaram o mercado internacional com sucesso. Esta leva de cineastas jovens com uma nova proposta produziu aquilo que passou a ser chamado Cinema Novo do Brasil. A partir do golpe de 1964, a temática ficou mais variada – incluindo temas ligados a defesa da democracia ou, em outro caminho, ao dia a dia das classes médias urbanas  – assim como as opções estéticas, que trouxeram o distanciamento do “cinema-documentário” hiper-realista dominante até então no movimento mas manteve a busca por uma linguagem própria e desafiadora.

O filme O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, baseado na peça homônima de Dias Gomes, contava a história de um sertanejo humilde que tentava cumprir uma promessa feita pela recuperação do seu burro de estimação, em uma igreja em Salvador. A temática abordada e os questionamentos levantados pelo filme aproximam-no de algumas propostas do cinema novo, mas sua estética acabou criticada pelos cineastas do movimento, que consideravam-na uma reprodução tupiniqueim dos mandamentos de hollywood, resultando no que chamavam de “emolduramento da miséria.” O relacionamento carregado entre Anselmo Duarte e representantes do engajado cinema novo deteriorou-se ainda mais com a vitória do filme de Duarte no Festival de Cannes, onde ganhou a Palma de Ouro de 1962.

Imagem: Anselmo Duarte a bordo do navio que o trazia para o Brasil depois da cerimônia do Festival de Cannes. Junho de 1962.BR_RJANRIO_PH_0_FOT_19848_008. Correio da Manhã.

Leitura sugerida:

DO SOCORRO CARVALHO, Maria. Cinema novo brasileiro. Coleção Campo Imagético, p. 289, 2006.

MASCARELLO, Fernando. História do cinema mundial. Papirus Editora, 2015.

MALAFAIA, Wolney Vianna. O mal-estar na modernidade: o Cinema Novo diante da modernização autoritária (1964-1984). NÓVOA, Jorge; BARROS, José D‟ Assunção (orgs.). Cinema-história: teoria e representações sociais no cinema, v. 3, 2005.

 

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