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Apesar da introdução de aparelhos de voo mais pesados do que o ar nos primeiros anos do século XX, as aeronaves sustentadas por gás e mais leves do que o ar continuaram a se desenvolver e a serem utilizados, tanto no transporte de carga e passageiros como para fins bélicos.

Estes aeróstatos que conheceram seu apogeu nas primeiras décadas do século passado possuíam uma estrutura metálica e um invólucro (envelope) em geral rígido, preenchido com gás para sustentação no ar. Sua curiosa forma de charuto chamava atenção por onde passava, e sua velocidade podia chegar a mais de 100 quilômetros por hora.  

O que você conhece sobre estes gigantescos “balões”? De onde vinham e para onde iam?

 

 

A cidade do Recife ganhou um feriado inesperado em 22 de maio de 1930: era o dia da primeira visita de um grande dirigível à cidade. Estes veículos mais leves que o ar (aeróstato) tiveram seu auge nos anos 1930, antes que as aeronaves mais pesadas que o ar e muito mais seguras que os dirigíveis dominassem definitivamente os céus do mundo.

O Graf Zeppelin atravessara pela primeira vez o oceano Atlântico, depois de 59 horas, um prazo prodigioso para uma época em que a travessia costumava ser feita por mar e podia levar uma semana. O dirigível partira da Alemanha (sua terra de origem) e fizera escala em Sevilha, na Espanha, transportando 35 passageiros. Cada passagem custava 1400 Reichmarks, o equivalente hoje a 10 mil euros (cerca de R$ 32 mil), o que tornava o passeio um luxo para poucos. Entre 1930 e 1936, o Graf Zeppelin viajou 68 vezes para o Brasil, pousando em Recife e/ ou no Rio de Janeiro. A promissora rota Brasil-Alemanha acarretou a instalação de uma torre de atracamento em Recife e a construção de um enorme hangar-aeroporto no Rio de Janeiro, concluído em 1936. O Zeppelin tinha 236,6 metros de comprimento e 30 metros de altura, e o gás de sustentação era o altamente volátil e inflamável hidrogênio. Motores a gasolina eram responsáveis pela direção do veículo.

Nos anos 1930 a Alemanha e os Estados Unidos eram os maiores parceiros comerciais do Brasil; fazia sentido, portanto, o estabelecimento de uma rota entre o país europeu e o Brasil, não apenas em termos de imagem e política como por haver um grande volume de correspondência oficial e comercial entre os dois países, que aliás representava o grosso dos lucros da empresa.

Os grandes dirigíveis tornaram-se símbolos da Alemanha, e possivelmente por isso despertavam a animosidade em alguns países, tendo sido usados pelos alemães já na Primeira Guerra Mundial. Em 1936 um dirigível ainda maior “aposentou” o Zeppelin: o Hindenburg tinha capacidade para 50 passageiros, um serviço luxuoso e 245 metros de comprimento. Sua primeira viagem foi para o Rio de Janeiro em março de 1936, mas seu fim trágico em maio de 1937 em Nova Jersey (EUA), ardendo em chamas diante de uma multidão estarrecida e matando dezenas de pessoas deu fim a era dos grandes dirigíveis.

Os dirigíveis passaram a ser usados para propaganda nazista com a ascensão de Hitler ao poder em 1933. O ministro da propaganda Goebbels percebeu o potencial das enormes aeronaves na promoção da “grandeza” do III Reich, e o governo nazista chegou a investir diretamente na companhia para que ela superasse as dificuldades impostas pela recessão econômica e construísse o grandioso Hindenburg, até hoje o maior veículo aéreo já construído. Desta forma o Estado alemão passou a controlar a empresa, e os dirigíveis ganharam uma suástica em suas aletas. O diretor da empresa, Hugo Eckener, responsável pela ascensão dos dirigíveis a partir da sua posse no cargo em 1917, não aceitou o papel que sua companhia desempenhava para o regime e acabou realocado em funções menores.

No Rio de Janeiro, o Aeroporto Bartolomeu de Gusmão, em Santa Cruz possuía estrutura completa para passageiros e manutenção das aeronaves, além do único hangar remanescente de construção alemã do mundo, para dirigíveis, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em Recife,  está a única Torre de Amarração, original alemã, ainda intacta, também tombada, pelo governo do Estado de Pernambuco.

Aerodomo em Santa Cruz

A fotografia do Zeppelim nos céus cariocas em 1932, a fotografia das instalações do aeroporto em Santa Cruz (RJ) e a passagem pertencem a coleção Luciano Ferrez, do fundo Família Ferrez (RJANRIO.FF.LF.101.34); a lista de passageiros integra o fundo Divisão de polícia marítima, aérea e de fronteiras (RJANRIO.OL.0.RPV.PRJ.27610).

 

Leitura recomendada

COSTA, Cristiano Rocha Affonso da. Os zeppelins os céus do Brasil – Uma visão sobre as viagens ao sul do país e o nazismo no pré Segunda Guerra Mundial. São José dos Pinhais: Estronho, 2020.

 

 

 

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