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Se o racionalismo, a objetividade e o dogmatismo geométrico orientavam o ideal dos concretistas paulistas (aglutinados no Grupo Ruptura) no início dos anos 1950, a ruptura radical com o cânone acadêmico e a aceitação da arte em sua ousadia e lirismo caracterizavam o carioca Grupo Frente, criado por Ivan Serpa e vários dos seus alunos em 1954, apresentando uma abordagem diferente ao concretismo, vertente artística influenciada pelo ambiente industrial, marcado por figuras muitas vezes áridas e rígidas. Em 1959 a aproximação entre os 2 grupos acaba se materializando no Manifesto Neoconcreto, em grande medida influenciado pelo desenvolvimentismo e otimismo daquele período. O movimento não se limitou às artes plásticas, marcando a poesia, literatura, influenciando o cinema.

Duas mulheres tiveram papel crucial nessa história. Você sabe quem são elas?

 

A arte e as duas Lygias

Lygia Pape e Lygia Clark: duas artistas plásticas contemporâneas que marcaram o panorama artístico brasileiro na segunda metade do século XX. Inovadoras, pioneiras, versáteis, ambas exploraram campos diversos de expressão artística. Pape desenvolveu obras em pintura e desenhos, marcados por padrões geométricos; relevos e xilogravuras abstratas; poesia, dança, performances e instalações. Assim como Clark, que desenvolveu pintura, instalações, e performances, foi personalidade central no movimento neoconcreto nos anos 1950 e 1960 no Rio de Janeiro. O trabalho desenvolvido pela artista levantava questões políticas, éticas além de uma busca pela inovação estética que, além da forma em si, valorizava a inserção do público observador na obra, engajando outros sentidos além da visão.

Clark também experimentava com a ampliação dos sentidos, e em especial valorizava a exploração de planos e espaços tridimensionais. Sua série Os Bichos (1960) expressa a experimentação radical neoconcretista, exaurido o excessivo e rígido racionalismo concretista; nelas, placas de metal unidas por dobradiças formam grandes formas tridimensionais e convidam o espectador a experimentar diversas formas e caminhos. A partir daí sua carreira segue em explorações tridimensionais e táteis, em que busca não apenas a imersão do espectador, mas sua co-autoria.

Nascida em Nova Friburgo (RJ) em 1927 Lygia Carvalho Pape igualmente explorava a participação do público como fonte de mudança e alteração em suas obras, como por exemplo em Ovo, Divisor e Água dos Prazeres, obras de 1968. Naquela década se engaja em poesia e também se dedica ao cinema, como programadora visual e como diretora, e desenvolveu paralelamente uma carreira docente (Escola de Artes Visuais Parque Lage, Museu de Arte Moderna, Universidade Federal do Rio de Janeiro). Suas obras participaram de bienais e exposições em todo o mundo (53ª Bienal de Veneza, Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri, na Serpentine Gallery, em Londres).

A mineira de Belo Horizonte Lygia Clark, nascida em 1920 muda-se para o Rio de Janeiro em 1947, para estudar com Burle Marx. Após sua participação pioneira no movimento neoconcretista, aproxima-se cada vez mais da body art, performances e instalações, transformando seu trabalho em discussões sobre o significado do corpo e sua relação com os objetos, e mesmo em um processo terapêutico.

Transgressão, experimentação, ousadia. As duas Lygias da arte brasileira fizeram uso de variadas mídias e formas de expressão artística, encontrando seu ápice na exploração do espaço, do corpo e do próprio espectador na produção de obras eternamente inacabadas.  

BR_RJANRIO_PH_0_FOT_16596_005. Obra da série Roupa-corpo-roupa (1967), de Lygia Clark. Correio da Manhã.

BR_RJANRIO_PH_0_FOT_38117_005. Lygia Pape no Museu de Arte Moderna aprecia o álbum de gravuras lançado com o Grupo Frente, ainda no início da sua carreira.

 

 

 

Leitura recomendada

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa950/lygia-pape

https://dasartes.com.br/materias/lygia-pape/

 https://www.escritoriodearte.com/artista/lygia-clark

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1694/lygia-clark

 https://www.historiadasartes.com/nobrasil/arte-no-seculo-20/abstracionismo/neoconcretismo/

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