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Bebida alcoólica a base de cereais, a cerveja não ocupava um espaço significativo na dieta dos portugueses, notórios bebedores de vinho – e, por conseguinte, nem dos brasileiros, antes da independência. A abertura dos portos e a vinda de alguns grupos de imigrantes abriu espaço para a importação e o consumo de cerveja, e ao longo do século XIX a bebida ampliou seu espaço na vida do brasileiro embora este, por muito tempo, tenha permanecido um convicto bebedor de cachaça.

Presume-se que a produção de cerveja tenha começado na Mesopotâmia, mais precisamente no chamado Crescente Fértil (entre os rios Tigre e Eufrates), cerca de 8 mil anos atrás, e registros escritos datam de mais de 4 mil anos. Sendo um fermentado alcoólico a partir de cereais, certamente surgiu sob diversas formas (a partir de milho, arroz, trigo, aveia) e em vários pontos no mundo antigo. Atualmente considera-se a cerveja basicamente como um fermentado de cevada, adicionado de lúpulo e a levedura, para fermentação do amido, ao qual adiciona-se água. A indústria cervejeira – em especial, a artesanal – produz grande variação de estilos, dependendo do tipo de lúpulo, do cereal utilizado, dos processos de fermentação e adição de outros ingredientes.

A imagem desta matéria está intimamente relacionada à história da cerveja em nosso país. Você conhece essa história? Imagina o que representa o desenho?

 

 

PARTE 2

Embora a breve colonização holandesa no Brasil no século XVII tenha permitido a introdução da cerveja no território que hoje se chama Brasil, a bebida realmente só passou a fazer parte dos hábitos das pessoas neste território a partir do século XIX, trazida por ingleses e facilitada pela Abertura dos Portos às Nações Amigas (ou seja, o fim do pacto colonial de monopólio comercial). Aliados de Portugal, cuja nobreza e elite governante fugiram para o Brasil em 1808 no contexto das guerras napoleônicas, os ingleses há muito tempo eram grandes bebedores e fabricantes de cerveja. Ao longo do século XIX a importação se expande, principalmente devido à atuação de imigrantes alemães e ingleses (que também fabricavam cerveja localmente), que a partir, principalmente de 1870 passa a sofrer a concorrência ativa de uma fabricação local, artesanal, de qualidade inferior mas menor custo.  

Em 1880 o Rio de Janeiro recebe equipamentos frigoríficos que permitiram melhor conservação do produto, e principalmente, fabricação de cervejas de baixa fermentação (como a tradicional pilsener), mais leves e adequadas ao clima de boa parte do país. Em 1888 surgem duas cervejarias, já de caráter industrial: Cia. Cervejaria Brahma (RJ) e a Cia. Antarctica Paulista. E foi a partir do final do século XIX que incentivos fiscais permitiram um florescimento pioneiro da indústria nacional de cerveja, em função de maiores facilidades para importar as máquinas e insumos necessários.

A Primeira Guerra Mundial prejudicou a produção, assim como a crise de 1929 e a Segunda Guerra desarticularam-na. Mas na década de 1960 o brasileiro já estava, definitivamente, acostumado à bebida e à sua produção, embora houvesse traços de um certo preconceito em relação à cerveja, considerada por algumas pessoas deselegante, popular, para ser bebida em botequins (como a cachaça). A união da Cia. Antarctica e da Cervejaria Brahma, em 1999, resultou na criação da AmBev (American Beverage Company) que, em 2004 se fundiu com a empresa belga Interbrew, resultando na maior produtora mundial: InBev.

Segundo Limberger, “o IBGE (2013) em dados estatísticos de 1907 demonstra que existiam 186 fábricas de cerveja no Brasil, empregando 2942 funcionários com  valor  da  produção  estimado em 22.686 contos de reis. A indústria cervejeira estava entre dos 10 setores industriais com maior valor da produção, ficava atrás somente da usinagem de açúcar, produção de calçados,  manuseio  do  charque,  fiação  e  tecelagem  do  algodão,  fundição  e  obras  de metais, moagem de cereais e cerrarias e carpintarias.” A partir do início do século XX as cervejarias artesanais pouco a pouco desaparecem, em processos de compra, fusão e desaparecimento, privilegiando indústrias de maior porte e capital, capazes de produzir em escala maior a cerveja preferida do brasileiro – as pilsen. No início do século seguinte, embora as grandes cervejarias continuassem a dominar o mercado, o mesmo apresentou uma tendência à diversificação e formação de nichos, favorecendo o ressurgimento das cervejarias artesanais nacionais.

Os documentos aqui apresentados pertencem ao fundo Privilégios Industriais. São eles: BR RJANRIO PI.0.0.562 - Processo para engarrafamento e fabricação de cerveja sem o contato com ar atmosférico (1891), - Autor(es): SCHNEIDER, Gustav Hermann (F), GÉRAUD, Jules (PROC) (F)  Requerente(s)/ Registro: 1623 Patente: 1127.

BR RJANRIO PI.0.0.3363  - Cápsula metálica para garrafas de cerveja ou outros líquidos, denominada CÁPSULA PHENIX (1902), - COLOMBO, Angel (F) - Autor(es), SALGUEIRO, Manuel A. (F) - Autor(es), JULES GÉRAUD, LECLERC & CIA. (J) - Requerente(s) Registro: 5372 - 03/10/1902 13:00 Patente: 3703.

Leitura recomendada:

KOB,  Edgar.  Como  a  cerveja  se  tornou  bebida  brasileira:  a  história  da  indústria  de cerveja  no  Brasil  desde  o  início  até  1930.In:Revista  do  Instituto  Histórico  e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, v. 161, n. 409, p. 29-58, 2000

Limberger, S. C. (2014). O setor cervejeiro no Brasil: gênese e evolução. CaderNAU6(1). Recuperado de https://periodicos.furg.br/cnau/article/view/4769

 

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