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O Carnaval quebra não apenas a rotina, mas também preconceitos. Subverte a realidade, transforma as pessoas, protesta contra injustiças, apresenta subjetividades que são vistas nas fantasias e nos sonhos dos foliões que, nos dias de festa, pulam pelas ruas da cidade. É como se a população recebesse um habeas-corpus das preocupações e imposições do cotidiano e tivesse a liberdade de ser quem querem ser, sem julgamentos, apenas no intuito de confraternizar e tirar férias da seriedade e da competição do dia a dia.

Mais de oitenta anos separam essa imagem, do carnaval de 1939, dos festejos atuais. Nela podemos ver, por um lado, diferenças marcantes entre o ontem e o hoje, como os ônibus antigos ao fundo e o perfil dos homens que brincam na rua, quase todos magros, décadas antes de que a febre das academias e dos músculos tomassem corpos e mentes. Mas, por outro lado, homens vestidos com saias e flores mostram uma continuidade entre passado e presente. Na década de 1930, uma época em que homens usavam, regra geral, ternos e chapéus nas cabeças, vestimentas como as da fotografia eram ainda mais ousadas, sendo vinculadas comumente às mulheres e ao feminino, em geral.

Saltando para hoje em dia, quase nove décadas adiante, vemos continuidades entre o antigo e o novo. Isso porque o homem se vestir de mulher, nos festejos carnavalescos, se tornou uma das práticas mais antigas da festa. Pelos quatro cantos do Brasil surgiram blocos que tinham/tem essa prática como seu carro-chefe, grande deles hoje já com 30, 40, 50 anos de carnaval. E, assim, passam gerações e gerações de foliões e foliãs, a cultura se modifica, os costumes também, governos se sucedem no país, mas algumas tradições permanecem.

Assim, a subversão e o bom humor se encontram, anualmente, em fevereiro, em cada estado e região desse imenso país. Homens e mulheres brincando nas ruas e bailes, como fizeram nossos pais e mães, avôs e avós, e como farão nossos filhos, filhas, netos e netas no futuro.

Fotografia: BR_RJANRIO_PH_0_FOT_00135_d001, fundo Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1939

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