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O   acervo de Hildete Pereira de Melo (HP), sob guarda do Arquivo Nacional, foi doado à instituição pela titular em 2008. Faz parte dos 305 conjuntos privados de interesse público custodiados pelo AN. Desses, apenas 26 são de mulheres, o que revela a falta de representatividade feminina em espaços de poder.

O dado apresentado reforça a importância de fundos arquivísticos como o de Hildete, que contempla sua trajetória e de outras mulheres, muitas vezes silenciadas ou marginalizadas. Mulher, feminista, militante e pesquisadora do tema “gênero”, Hildete acumulou extensa documentação sobre o movimento de mulheres ao longo da década de 1970 e 1980.

Paraibana nascida na cidade de Campina Grande em 1943, iniciou sua vida política ainda como estudante secundarista. Formou-se em 1966 pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Paraíba e, durante a graduação, foi tesoureira da última diretoria da União Estadual dos Estudantes, desmantelada pelo golpe de 1964. Após curto período na França (1967-68), onde fez um curso de especialização em desenvolvimento econômico na Universidade de Toulouse, retornou ao Brasil, para o Rio de Janeiro, filiando-se ao Partido Comunista, então na clandestinidade.

Foi, contudo, apenas no início da década de 1970, que Hildete teve contato com a luta das mulheres no Brasil, durante o que se costuma chamar de segunda onda feminista. Mesmo em um contexto de crise democrática e cerceamento das liberdades individuais, o movimento feminista encontrou espaço para se organizar e adotar novas bandeiras, diversas daquelas da primeira onda. Para além dos direitos políticos pleiteados no início do século XX, temas como ampliação da cidadania, direito à sexualidade, direitos reprodutivos, violência doméstica e descriminalização do aborto, ganhavam pauta.

Junto a outras companheiras de partido, Hildete criou um grupo de trabalho sobre o papel da mulher. Sua militância no PCB foi indispensável para sua ativa participação no movimento feminista, uma vez que acumulara capital político para a nova militância. Em 1976, entrou para o Centro da Mulher Brasileira, criado no ano anterior com o objetivo de refletir sobre a condição da mulher na sociedade. Enquanto integrante do CMB, esteve focada na atuação da mulher no mercado de trabalho e sua luta por igualdade de salários, proteção à maternidade, entre outros, buscando uma aproximação com as mulheres das classes populares.

Em 1982, fundou o PMDB Mulher e foi membro efetivo do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, vinculado ao Ministério da Justiça (1985-89). Doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atualmente é professora da UFF, coordenadora do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero e editora da Revista GÊNERO do Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social da UFF.

O acervo de Hildete Pereira de Melo é formado por 4,48m de documentos textuais, além de vasto material iconográfico, produzidos entre os anos de 1976 e 1990. Recortes de jornais, panfletos, estudos acadêmicos, projetos de leis, decretos e correspondências a respeito do aborto, violência contra a mulher, economia, trabalho feminino, além de fotografias e uma coleção de cartazes de diversas organizações sociais de mulheres, que contam um pouco da história do movimento feminista brasileiro.

 Imagens:

Foto de Hildete Pereira de Melo para matéria da revista Manchete "Aborto: opção proibida". [Rio de Janeiro], 19 de novembro de 1982. BR RJANRIO HP.0.FOT.1;

Cartaz do Centro da Mulher Brasielira. Niterói, 1978. BR RJANRIO HP.0.CAR.1;

Cartaz do Primeiro Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora. São Paulo, janeiro de 1986. BR RJANRIO HP.0.CAR.5.

 

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