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O alagoano Floriano  Vieira  Peixoto nasceu em 1839 e ingressou na carreira militar ao entrar para a Escola Militar do Rio de Janeiro em 1859. Serviu na Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) como oficial do exército. Em 1884 assumiu a Presidência da província do Mato Grosso, onde permaneceu por cerca de um ano. Quando do golpe que deu origem à República em 1889, recusou-se a liderar a defesa do Estado Imperial. Nomeado Ministro da Guerra em 1890, candidatou-se a vice-presidente nas eleições indiretas (realizadas na Assembleia Constituinte) de 1891, que deu a vitória ao marechal Deodoro. No entanto (e aliás, até a Constituição de 1988) a legislação permitia que candidatos de chapas diferentes aos cargos de presidente e vice fossem eleitos. Assim, o presidente eleito Deodoro da Fonseca assumiu com o vice eleito pela chapa da oposição, Floriano Peixoto.

No fim daquele mesmo ano o governo atravessava uma crise grave que resultou no fechamento do Congresso e na instauração do Estado de Sítio na Capital Federal e em Niterói pelo presidente Deodoro, que perdia apoio entre as elites regionais e entre os próprios militares. Sua tentativa de golpe malogrou, e uma resistência disseminada entre a oposição, o movimento sindical, o congresso nacional e setores militares obriga a renúncia do presidente. Floriano Peixoto então torna-se o segundo presidente do Brasil.

O marechal recebeu inúmeras alcunhas ao longo dos seus anos de intensa atuação política: a Esfinge, Marechal de Ferro, o Consolidador da República. Embora reabrisse o Congresso e suspendesse o Estado de Sítio logo depois de empossado, tais atos não significaram os auspícios de um governo democrático. Contudo, Floriano contava com apoio político expressivo que faltava a seu antecessor, permitindo que fizesse uso da máquina jurídica e repressora do Estado para coibir qualquer resistência e reprimir com violência desmedida revoltas e levantes que ocorreram durante seu mandato. Usou mesmo do seu poder como integrante do Supremo Tribunal Militar na repressão a alguns dos movimentos de contestação ao seu governo.

Apesar de contar com maior apoio que Deodoro, Floriano enfrentou uma oposição ferrenha que conseguiu mobilizar as ruas da Capital contra aquele que consideravam usurpador (em tese, novas eleições deveriam ter sido convocadas após a renúncia de Deodoro, mas Floriano alegou que este mecanismo só se aplicaria em casos de eleição direta). Prisões, desterros e um novo decreto de Estado de Sítio intimidaram seus opositores. No entanto, outras revoltas, de origem e proporções diversas, marcaram seu governo.

Forças políticas de campos opostos - federalistas e republicanos - envolveram-se em uma disputa ferrenha no Rio Grande do Sul em 1892. Após um ano de embates violentos, os republicanos, apoiados pelo presidente, venceram ao empossar Júlio de Castilhos no governo gaúcho. Já a Revolta da Armada em 1893 (ensaiada durante a crise que resultou  na renúncia de Deodoro) expressava o descontentamento da Marinha brasileira com Floriano Peixoto, a quem acusavam de privilegiar o Exército em detrimento da Marinha, além de não conseguir governar de forma equânime para todos os estados. Sem apoio na Capital Federal os navios revoltosos acabaram rumando para o sul do país, onde ainda se desenrolava a revolução federalista. A revolta da esquadra brasileira, liderada por Custódio de Melo, foi derrotada definitivamente no ano seguinte.

Em termos econômicos, seu governo foi marcado pela inflação, já que, como seu antecessor, recorria a emissão de moeda para sanar as finanças públicas, o que agravou o problema da inflação e da desvalorização cambial. Floriano Peixoto na verdade passou seus anos de governo tentando se defender de ataques dos seus opositores e se adaptando às reformas administrativas impostas pela Constituição promulgada em 1891.

As cisões que marcaram seu governo acabaram por expor a fragilidade das alianças entre as forças que deveriam apoiar a República. Em novembro de 1894, em meio a boatos que evocavam possibilidades de golpe por parte do militar presidente, assume o primeiro presidente civil, eleito diretamente, o paulista Prudente de Morais.

O fundo Floriano Peixoto (Q6) no Arquivo Nacional possui “correspondência administrativa de governadores e comandantes regionais sobre conflitos locais por todo o Brasil, sobre a Revolta Federalista, a Revolta da Armada, meios de transporte e colonos imigrantes. Correspondência diplomática com a comissão delegada para a compra de navios de guerra, armamentos e munições na Europa e Estados Unidos da América. Processos, mensagens, relatórios, memórias, manifestos, estudos, pareceres, protocolos e livros referentes a problemas com as vias de comunicação marítimas e fluviais, ferrovias, telégrafos e segurança nas fronteiras. Recibos diversos, poemas, cartões de visita, correspondência entre revoltosos, decretos, ofícios, petições, nomeações para a formação do governo provisório dos revoltosos em Santa Catarina. Álbuns de fotografias sobre o Rio Antigo e sobre a empresa Krupp, fotografia da esposa do titular. Fotografias referentes às festas republicanas de 1894, monumentos, fortalezas, igrejas, ilhas, praias, ruas, praças e prédios do Rio de Janeiro. Retratos de Benjamin Constant, de José Bonifácio de Andrada e Silva e de Floriano Peixoto” segundo o SIAN. Ele encontra-se organizado em: Documentos complementares, Documentos Pessoais, Governo Legal, Produção Intelectual de Terceiros, Revoltosos.

Imagens (retiradas do fundo Floriano Peixoto):

BR_RJANRIO_Q6_GLE_FOT_00002_d0005de0021. Álbum referente aos festejos nacionais do 5º aniversário da Proclamação da República oferecido pela Comissão Militar dos Festejos a Floriano Peixoto, presidente da República.  Vista da baía de Guanabara (RJ) com uma embarcação e a Igreja de Nossa Senhora da Candelária (Rio de janeiro, RJ) e a Alfândega do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ) ao fundo; 1894 

BR_RJANRIO_Q6_GLE_COR_CAS_0171. Carta cumprimentando o titular pela promoção a tenente-general. Fevereiro de 1890.

BR_RJANRIO_Q6_GLE_FOT_00001_d0018de0052. Álbum referente aos festejos nacionais do 5º aniversário da Proclamação da República oferecido pela Comissão Militar dos Festejos a Floriano Peixoto, presidente da República. Fachada do edifício da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, na Rua Primeiro de Março (Rio de Janeiro, RJ), com a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo ao fundo; 1894

 

 

Referências de leitura:

https://atlas.fgv.br/verbetes/floriano-peixoto

HEINRICH, Sérgio Antônio. REVOLUÇÃO FEDERALISTA (1893–1895). Maiêutica-História, v. 4, n. 1, 2016.

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