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A Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop) foi fundada em janeiro de 1961 a partir da fusão de pequenos grupos de jovens e intelectuais marxistas contrários ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). A principal de divergência entre as duas organizações estava na tese defendida pelo PCB de que a revolução nacional democrática deveria ser realizada em aliança estratégica com a burguesia nacional. Para a Polop o conflito principal se daria contra o capitalismo, entre a burguesia e o proletariado, onde a massa operária seria a força motriz desse processo, sendo um erro muito grave acreditar no caráter revolucionário da burguesia nacional. No jargão principal do movimento: a revolução brasileira “ou será socialista ou não será revolução”.

O nome Política Operária teve como inspiração o coletivo socialista alemão homônimo, Arbeiterpolitik, de grande influência na formação política de Érico Sachs, principal líder e teórico da Polop. Apesar do título, a base operária sempre foi frágil durante todo o período em que a organização atuou[1]. A Polop aglutinou sobretudo intelectuais da esquerda e militantes do movimento estudantil.

O golpe civil-militar de 1964, ao confirmar algumas das análises conjunturais da Polop relativas à associação da burguesia nacional com o imperialismo, possibilitou a ampliação da base social da organização, incluindo setores militares expulsos de suas corporações. A Polop desempenhou um papel teórico fundamental que culminou com a elaboração do Programa Socialista para o Brasil, “principal contribuição teórica dada pela PO ao movimento revolucionário (...), em prol da aplicação da teoria marxista-leninista à realidade brasileira”[2].

Programa Socialista para o Brasil. BR RJANRIO F3.0.0.1

 

Para propagar suas ideias, a organização passou a publicar, a partir de 1962, o periódico Política Operária, que circulou até 1984, publicado clandestinamente durante a ditadura.

Periódico publicado pela Polop, que circulou de 1962 a 1984.
Política Operária: jornal de combate da classe trabalhadora. Agosto de 1970. BR RJANRIO F3.0.0.8

 

No entanto, assim como outras organizações contrárias ao regime militar, a Polop precisou enfrentar o sistema repressivo estruturado pelo governo, responsável por prisões, exílios e/ou o desaparecimento de alguns de seus militantes, bem como cisões internas. A estratégia a ser adotada no enfretamento contra a ditadura levaria ao primeiro rompimento no seio da organização no final da década de 1960. Parte do coletivo passaria defender a luta armada como o único caminho para se alcançar o socialismo diante das condições impostas pela ditadura. Dessa inflexão surgiriam dois grupos: a COLINA (Comando de Libertação Nacional) e o VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Outra parte vai formar o Partido Comunista Operário (POC), continuando o trabalho da Polop de militância dentro das fábricas e do trabalho teórico. Na década de 1970 uma nova ruptura: alguns militantes desligam-se do POC para formar a Organização de Combate Marxista-Leninista - Política Operária (OCML-PO), também conhecida como "nova Polop".

Tal cenário levou ao enfraquecimento da organização, que buscou uma reorganização com a anistia e o retorno ao país dos militantes exilados, o que não foi possível. Sua dissolução na década de 1980 resultou no ingresso da organização no recém fundado Partido dos Trabalhadores.

Em 2010, o Centro de Estudos Victor Meyer (CVM) – entidade formada por ex-integrantes e criada com o objetivo de "preservar" a memória da Polop – doou ao Arquivo Nacional uma parcela do arquivo da organização acumulada por ex-militantes. O conjunto documental recebeu o título "Fundo Política Operária", de código F3, passando a integrar o Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Em 2014, a parcela textual do fundo foi selecionada pela Comissão Nacional da Verdade como de interesse para os estudos sobre violações de direitos humanos no Brasil e integrados ao Projeto de Reformatação de Acervos do Arquivo Nacional. O acervo está 100% identificado, organizado e digitalizado, disponível para consulta no SIAN

O fundo é composto pela Biblioteca Érico Sachs-Alice Werner – formada por livros em diversos idiomas que tratam de temas relacionados ao marxismo, política operária etc., provenientes de duas bibliotecas particulares de dois ex-militantes, Alice Helga Werner e Érico Sachs – e por 0,36 metro linear de documentos escritos, que incluem "declarações e resoluções de congressos, conferências, artigos, jornais, revistas, boletins internos, tribunas de debate [e] depoimentos" também doados por ex-integrantes da Polop. Esses documentos constituem uma fonte imprescindível para a construção do conhecimento histórico sobre as organizações de esquerda no Brasil, seus integrantes e projetos políticos. 

 

[1] Esse dado é apontado pela própria organização, como por exemplo no Boletim da CN - Contribuições ao balanço de nossa prática política, circular da Polop distribuída entre os militantes com orientações para que fosse destruída depois de preparada a discussão. BR RJANRIO F3.0.0.0016.9

[2] Segundo a própria organização no documento Roteiro para o estudo das posições programáticas da OCML-PO. S.l., s.d. BR RJANRIO F3.0.0.2.

 

Saiba mais em:

Centro de Estudos Victor Meyer (Org.). Polop: uma trajetória de luta pela organização independente da classe operária no Brasil. Salvador – BA, agosto de 2009.

REIS, Daniel Aarão. Classe operária, partido de quadros e revolução socialista. O itinerário da Política Operária – Polop. In: FERREIRA, J; REIS, Daniel Aarão (Orgs). As esquerdas no Brasil. Vol 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

TORRES, Aline Camargo. Ditadura, arquivo e memória: notas para um estudo sobre o caso Organização Política Operária (Polop). Dissertação de Mestrado Acadêmico em História, Política e Bens Culturais apresentada ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC. Rio de Janeiro, 2013.

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