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Uma dos aspectos mais importantes da atuação do Arquivo Nacional é a guarda de documentação oficial produzida pelo Estado Brasileiro, incluindo nesta ação o recolhimento, preservação e o acesso do povo brasileiro a estes documentos, permitindo que conheça  a sua própria história. Contudo, nosso acervo não conta apenas com documentação oficial.

A instituição guarda milhares de documentos oriundos da esfera privada: famílias, empresas, personalidades (políticos, artistas, ativistas, cientistas, acadêmicos), organizações políticas, produtoras de cinema, sindicatos... São 305 conjuntos documentais privados que foram doados ao Arquivo Nacional, contendo mapas, fotos, filmes, cartas, livros, discos, relatórios de pesquisa, discursos, cartazes, jornais...

O fundo Percival  Farquhar foi doado ao Arquivo Nacional em 1961 pela família do empresário, falecido em 1953. Nascido em York, Pensilvânia  (EUA),  em 1864, ele  construiu  e  reformou  estradas  de  ferro  em  Cuba  e  Guatemala.  No Brasil, presidiu a  Brazil  Railway  (1907-1914),  responsável pela  Estrada  de  Ferro  Madeira-Mamoré  (1910  -1912). Também envolveu-se em obras de saneamento no Pará, junto  com  Oswaldo  Cruz, além de ter construído um porto que facilitou o aumento do circulação de navios no rio Amazonas. Construiu o quebra-mar, o canal e o Porto do  Rio  Grande  do  Sul. Seus investimentos no Brasil continuaram e incluíram criação de gado, frigoríficos, serrarias. Chegou a ser condecorado com a  Ordem  Nacional  do  Cruzeiro  do  Sul  (1949).

O fundo contém documentos sobre a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Organização da Companhia Brasileira de Ferro e Transportes, documentos diversos sobre a criação e organização da Itabira Iron Ore Co. Ltd, sobre a Brazil Railway Company, além de fotografias em Minas Gerais e Espírito Santo.

A Brazil Railway construiu mais de 300 quilômetros de linha férrea unindo São Paulo ao Rio Grande entre 1908 e 1910.. A obra, concessão do governo federal, atravessava a região disputada pelos estados de Paraná e Santa Catarina. A empresa concessionária recebeu do governo federal até 15 km de cada lado da estrada de ferro como doação de terras tidas como devolutas para exploração madeireira e para colonização europeia. Contudo, as terras eram ocupadas por posseiros assentados há muitos anos, que residiam e trabalhavam na região. Inabalável, a Estada de Ferro expulsou esses habitantes, e sua atuação se repetiria no vale do rio Iguaçu: o grupo empresarial de Farquhar  dedicava-se a explorar a madeira e a vender as terras “devolutas” (na verdade, brasileiros que desenvolviam atividades na região) a colonos europeus.

As disputas entre os dois estados, entre os colonos e as empresas envolvidas na expansão da ferrovia rumo ao extremo sul do país deram origem ao conflito que passou para a história como Guerra do Contestado.

O fundo conta também com fotografias, embora não da região do Contestado. Abaixo, uma foto dos anos 1920 da região mineradora de Itabira, em Minas Gerais.

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