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“O lema hoje é participação, e neste Sete de Setembro o povo também tomará parte, agitando as bandeiras para dar aspecto mais festivo às comemorações do 150º aniversario da Independência do Brasil.”

A Tribuna (Santos, SP) – 30 de agosto de 1972

 

Marcado por encontros cívicos e pompa militar, o aniversário de 150 anos da Independência do Brasil _ o Sesquicentenário da Independência _ ocorreu em meio a um regime militar ditatória no Brasil que transformou o marco histórico em uma celebração orquestrada com o intuito de festejar a integração e a unidade da nação, em um momento em que todas as vozes que questionavam as noções de nação impostas pela ditadura civil-militar encontravam-se sob silêncio forçado.

A presença de Portugal e dos seus estadistas e cidadãos também marcou as comemorações. Igualmente sob jugo ditatorial (apesar da morte de Oliveira Salazar em 1970, os militares mantiveram vivo, embora por poucos anos, o regime autocrático imposto antes da Segunda Guerra Mundial), Portugal atravessava um delicado período que culminaria com a queda do regime e o desmantelamento final do que restava do seu império colonial. Nesse sentido, a antiga metrópole aproximava-se da sua ex-colônia em busca do apoio possível à manutenção dos seus territórios além-mar, àquela altura localizados na África e Ásia.

O traslado dos restos mortais de d. Pedro I assinalou o início das comemorações: seu retorno ao Brasil, passados mais de 140 anos da sua expulsão do país, revestiu-se de intenso simbolismo nacionalista, que intensificou sua imagem de herói unificador da pátria brasileira e fundador da nação. Sua figura ocupou parte importante nos festejos, e até mesmo um filme foi realizado com apoio estatal, colocando no centro dos acontecimentos que levaram á Independência política em 1822 a rebeldia e o desprendimento de d. Pedro.

Os restos mortais chegaram no Rio de Janeiro em 22 de abril, após uma travessia marítima de 11 dias. Realizou um périplo por várias capitais e culminou na grande celebração do 7 de setembro, após a qual foi enterrado no Monumento do Ipiranga.

Os festejos cívicos ocuparam as ruas e praças de todo o país, e comissões estaduais foram instaladas para levar a cabo a realização dos eventos. Em geral atrás de grades e aramados, o povo foi chamado a participar, ordeiramente e como espectador, da exaltação patriótica de um país em franco processo de desenvolvimento, enquanto mantinha a unanimidade nacional intocada.

Foi nesse contexto que o governo português equiparou, para fins jurídicos, os brasileiros aos cidadãos portugueses, ocorrendo o movimento recíproco pouco depois. Vale lembrar que desde 1953 as tratativas em relação ao estabelecimento desta reciprocidade vinham sendo realizadas.

 

BR RJANRIO EH.0.FOT, EVE.10227: Inauguração da Exposição Sesquicentenário da Independência no Ministério da Educação e Cultura, setembro de 1972.

BR RJANRIO EH.0.FOT, EVE.10344: Solenidade - Entrega da Bandeira Nacional, medalhas e diplomas comemorativos ao Sesquicentenário da Independência a várias personalidades civis e militares, novembro de 1972      

 

de Almeida, M. A. T. S. (2008). Brasil e Portugal no sesquicentenário da independência brasileira (1972).

Almeida, A. T. S. D. (2009). O regime militar em festa: a comemoração do Sesquicentenário da Independência brasileira (1972). Doutorado em História. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.

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