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Em 1822 – o ano da Independência política do Brasil da antiga metrópole europeia, Portugal – teve início um período de um certo afastamento entre os dois países, percebendo-se frieza e desinteresse de parte a parte em relação inclusive a aspectos culturais. Ao longo do século XIX o Brasil buscou forjar sua identidade, diferenciando-se da antiga metrópole. A presença de imigrantes portugueses no Brasil, contudo, nunca deixou de ser marcante, e a partir do final do século XIX o fluxo de imigrantes aumentou, e ao longo de todo o século XX e até os dias de hoje, este fluxo passou por movimentos pendulares que ora incrementavam o movimento para a antiga colônia, ora aumentavam o número de pessoas que retornavam para a “pátria-mãe.”

No início do século XX personalidades, em especial intelectuais brasileiros e portugueses intensificaram seus esforços no sentido de reaproximar os dois países. Associações beneficentes e culturais se multiplicaram, e em 1931 é criada a Federação das Associações Portuguesas, com o objetivo de coordenar a atuação da colônia portuguesa no Brasil.  Seu primeiro presidente é ninguém menos que Carlos Malheiros Dias, uma das personalidades mais importantes para o Real Gabinete Português de Leitura.

 

Fundado em maio de 1837 por 43 portugueses moradores do Rio de Janeiro, o Gabinete Português surgiu como uma biblioteca para sócios que se propunha a ser um centro de cultura lusitana que incentivasse os portugueses a apreciar a cultura da mãe pátria. Desde então o Gabinete, atualmente a maior biblioteca de obras portuguesas fora de Portugal e considerado um dos mais lindos edifícios a abrigar uma biblioteca no mundo, vem funcionando como um dos maiores organizadores da comunidade portuguesa no Brasil, em termos de cultura.

Funcionou inicialmente na antiga rua de São Pedro, imediações do Campo de Santana (centro do Rio de Janeiro), e abrigou-se em outros endereços antes de se instalar definitivamente no ponto atual em 1871, na antiga rua de Lampadosa, atual Luís de Camões. O atual edifício, no entanto, foi erguido quase dez anos depois, em 1880, um projeto do arquiteto português Rafael da Silva Castro. O estilo neomanuelino do qual o Gabinete é exemplo fiel prima pela exuberância, a dinâmica de curvas e inspiração na aventura portuguesa nos mares à época chamada dos Descobrimentos. Em 1900 a instituição passa a ser pública (aberta a qualquer pessoa) e em 1906 recebe do rei português d. Carlos o título de “Real”.

A década de 1920 (e também a de 1930) é caracterizada pelo empenho de vários sócios da instituição, em especial o já citado Carlos Malheiros, e o empresário Albino Souza Cruz (dono de um grande negócio de tabaco, vendeu-o a grupos ingleses que o transformaram na Souza Cruz, gigante da indústria dos cigarros). Para as comemorações do centenário da Independência em 1922, o Real Gabinete edita a extensa História da Colonização Portuguesa do Brasil, proposta pela Câmara Portuguesa do Comércio e indústria do Pará sob a direção literária de Malheiro, com a arte realizada pelo aquarelista Roque Gameiro e cartográfica do Conselheiro Ernesto de Vasconcelos. 

O impressionante edifício foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Estadual em 1970. Atualmente, além das milhares de obras (inclusive exemplares muito raros) oferece cursos, sedia conferências e também possui um pequeno museu com coleções de numismática e de pintura.

 

Documentos:

BR RJANRIO O2.0.FOT.444/16: Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro, [1890]

BR RJANRIO VV.0.0.1950009672 - assuntos politicos: organizacao e administracao das sociedades civis: Federação das Associações Portuguesas do Brasil (2 páginas de um extenso dossiê), 1950-1952.

BR RJANRIO EH.0.FOT, EVE.15356/19: Comemoração do Dia da Comunidade Luso- Brasileira no Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro, RJ, 1981.

 

Recomendação de leitura

Azevedo, F. C. D. (2010). A doação da biblioteca João do Rio ao Real Gabinete Português de Leitura: aspectos de uma história pouco conhecida. Perspectivas em ciência da informação15, 233-249.

de Sousa, R. R. (2007). Imigração portuguesa, identidade e representação geográfica: o lugar da Casa Regional no movimento Associativo luso-brasileiro. Espaço e Cultura, (22), 54-66.

 

 

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