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Fundado em 1884, o periódico diário carioca O Paiz surgiu como voz de apoio e difusão das causas abolicionistas e republicanas, envolvendo-se ativamente na campanha contra a monarquia dos Bragança que então governava o Brasil. Rui Barbosa inicialmente comandou o jornal, por apenas alguns meses, que passou por vários proprietários e diretores. Ao longo de toda a primeira república, alinhou-se aos governos que se sucederam na Presidência. Jornalistas, intelectuais e políticos notórios escreveram no jornal: os dois Azevedos (Arthur e Aluísio), Joaquim Nabuco, Afonso Arinos, Quintino Bocaiuva – que, aliás, substituiu Rui Barbosa no cargo de editor.

Chegou a ser um dos maiores – se não o maior -  jornais do país, com tiragem expressiva inclusive fora do Rio de Janeiro. Em alguns momentos foi acusado de portar-se como um “balcão de negócios” por seu excessivo governismo em relação a maioria dos presidentes da Primeira República. Em 1910, já sem Quintino Bocaiúva à frente, cerra fileiras com o marechal Floriano, candidato à presidência, atacando incessantemente o chamado movimento civilista, de oposição à candidatura militar e em prol de Rui Barbosa. Vitorioso o marechal, O Paiz foi além de uma simples defesa do governo para integrar – segundo Werneck Sodré, o então dono do jornal João Larges exercia larga influência nos altos escalões. Condenou veementemente a Revolta da Chibata, que terminou com uma repressão vergonhosa e o desterro de centenas de inocentes sob o véu do Estado de Sítio. Por ser português, Lages destacava os eventos de seu país natal nas páginas do jornal. Sua associação com Hermes da Fonseca custou a depredação das suas instalações ao fim do mandato, quando o marechal alcançou baixíssimos índices de popularidade. A partir do governo de Arthur Bernardes, iniciado em 1922, O Paiz passa por grave crise de credibilidade que resulta em queda acentuada na circulação. O golpe final seria a campanha da Aliança Liberal a partir de 1929, resposta de setores da sociedade que se opunham à política exclusivista das oligarquias que ocupavam o poder desde Prudente de Moraes (1894), que enfrentou ataques violentos por parte do jornal. As eleições de 1930, conturbadas e possivelmente fraudadas, apontaram para a permanência das velhas políticas oligárquicas, mas o levante ocorrido em outubro daquele ano levou Getúlio Vargas ao poder e alterando radicalmente a política nacional. Quando as tropas do novo governo alcançaram a capital do país, a sede de O Paiz foi atacada, depredada e incendiada. O periódico tentou ressuscitar cerca de um ano depois, sob nova direção, mas a experiência não durou mais que um ano.

Quintino Antônio Ferreira de Sousa – que ficou conhecido por Quintino Bocaiúva nasceu no Rio de Janeiro em 1836, mas mudou-se para São Paulo ainda jovem para cursar a faculdade de direito. No entanto, engajou-se na carreira jornalística e a ela se dedicou a maior parte da sua vida, englobando causas políticas que defendia. Adotou o sobrenome “Bocaiúva” em 1851, expressão dos seus sentimentos “nativistas”- um posicionamento em favor do que compreendia como sua pátria autêntica. Voltou ao Rio de Janeiro, onde colaborou com os periódicos Diário de Rio de Janeiro, Correio Mercantil, A Semana. Nas páginas dos jornais, debatia a causa republicana (que defendia), a guerra do Paraguai, a crise financeira, as liberdades civis. Um dos autores do Manifesto Republicano (1870), atuou nos jornais Globo (não confundir com O Globo, da família Marinho no século XX) e O Cruzeiro antes de ajudar a fundar O Paiz. Participou do golpe de Estado que derrubou a Monarquia e também da organização inicial do novo governo Republicano. Após alguns percalços com o novo regime e suas lideranças (chegou a ser preso em 1891), continuou sua carreira de Senador e depois, presidente do Rio de Janeiro. Quando da sua morte, em 1912, deixou para trás a alcunha de Patriarca da República e uma volumosa carreira literária, entre ensaios, peças, traduções.  

O Arquivo Nacional guarda em sua biblioteca alguns exemplares do jornal O Paiz em sua biblioteca, sob a notação J378.

http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-primeira-republica/1138-quintino-bocaiuva-quintino-antonio-ferreira-de-sousa

https://bndigital.bn.gov.br/artigos/o-paiz/

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