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Ao longo da década de 1930, cresce a identificação ideológica entre o governo brasileiro e os regimes fascistas da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini, intensificando-se também o relacionamento comercial. O autoritarismo extremo desses regimes, assim como o uso de propaganda e a organização militar, eram pontos admirados, tornando-os exemplos a serem seguidos pelo Brasil. No entanto, o país acabou entrando na Segunda Guerra ao lado daqueles que combatiam as forças do Eixo (a Alemanha, a Itália e o Japão).

A Segunda Guerra tem início em 1939, e no ano seguinte a Conferência de Havana orienta os países das Américas para que mantenham a neutralidade diante do conflito europeu. A diretriz é adotada pelo governo brasileiro, mas o ataque à base americana de Pearl Harbor, em 1940, leva os Estados Unidos à guerra e a maior parte do continente a romper relações com os países do Eixo – Alemanha, Itália, Japão. Nos meses seguintes, 19 navios mercantes brasileiros foram torpedeados dentro dos limites marítimos nacionais, deixando cerca de mil mortos e causando uma comoção nacional que se tornou um dos fatores para a entrada do país na guerra ao lado dos Aliados.

A adesão do Brasil ao conflito mundial decorreu de delicadas e controversas negociações com os Estados Unidos, para quem o posicionamento do país era crucial devido à posição estratégica das regiões Norte e Nordeste, e também como forma de garantir que sua influência política e militar se consolidasse em todo o subcontinente sul-americano.

A convenção assinada em maio de 1942 estabelece a colaboração entre os dois países, determinando a criação de uma comissão militar cujas análises resultariam no aprimoramento técnico e material das forças armadas brasileiras e no uso das nossas instalações navais e aeronáuticas. Além da cooperação militar, a entrada na guerra envolveu uma série de acordos entre os dois países, que estabeleciam um fluxo de empréstimos para o Brasil e de matéria-prima necessária aos esforços de guerra para os Estados Unidos. Já no ano seguinte, após negociações entre Vargas e o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, uma força militar brasileira foi preparada para ser enviada ao teatro de guerra europeu. Criada em agosto de 1943, sob comando do general Mascarenhas de Moraes, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) lutou na Itália junto ao 5º Exército norte-americano.

A estruturação da FEB marcou o início da influência dominante norte-americana sobre as forças armadas brasileiras. Além do aporte financeiro para reaparelhamento militar, o Brasil conseguiu que oficiais fossem enviados aos Estados Unidos para treinamento e familiarização com a doutrina e os métodos militares daquele país, substituindo a antiga tradição militar francesa, até então predominante.

Os efeitos mais duradouros deste acordo militar não foram alterações nas táticas de guerra ou nos equipamentos utilizados pelas nossas forças armadas. Uma nova concepção de organização da corporação militar seria desenvolvida a partir dessa aproximação: em 1946, foi introduzido o conceito de Estado-Maior Conjunto, sendo criada a Escola Superior de Guerra (ESG), cujo modelo se espelhava na Escola Nacional de Guerra dos EUA, em Washington. É a partir desse momento que as forças armadas deixam de ter um papel marginal, quase instrumental (em golpes e quarteladas), na política brasileira, para assumir uma posição determinante no jogo do poder, arvorando-se o direito de decidir quem era ou não adequado para guiar os rumos da nação.

A documentação aqui exibida pertence ao fundo Salgado Filho, que se encontra parcialmente organizado.

Caixa 8, Pct 23, doc 20: Carta (trecho) confidencial de E. Leitão de Carvalho, general, chefe da delegação brasileira na Comissão Mista Brasil-estados Unidos de Defesa, para Osvaldo Aranha, ministro das Relações  Exteriores; Eurico Gaspar Dutra, general, ministro da Guerra agradecendo a confirmação no  cargo e enviando, em anexo, correspondência sobre a questão do fornecimento de material bélico ao Brasil, e tratando de outros assuntos relativos ao acordo. 09/01/1944.

BR_RJANRIO_R0_0_FOT_046. O primeiro Ministro da Aeronáutica Joaquim Pedro Salgado Filho, que era civil, visita a escola de aviação Embry Riddle no Estados Unidos. Salgado Filho encontra-se de terno branco; o homem de terno e gravata ao centro é John Paul Riddle, diretor da escola, que seria um centro de treinamento de pilotos fundamental para a força aérea brasileira. Miami (FL), EUA. Julho de 1942 ou 43.

 

Leitura sugerida

de Oliveira, D. A condução da aliança militar na Segunda Guerra Mundial: o caso daComissão Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos (CMDBEU)-1942-45.

Teixeira, A. M. (2013). Força aérea brasileira: os reflexos do alinhamento com os Estados Unidos (1941-1948).

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