.

120 anos de Butantan

Epidemias da peste causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida por pulgas que parasitam animais de pequeno porte (em especial, ratos) para o ser humano encontram-se na origem da criação de dois dos maiores institutos de pesquisa biomédica no Brasil: o Instituto Oswaldo Cruz-Manguinhos e o Instituto Butantan. A chamada peste bubônica grassou em cidades como Santos e Rio de Janeiro no final do século XIX, incentivando iniciativas de pesquisadores e do poder público no sentido de criar instituições de pesquisa que conseguissem produzir medicação para prevenir e/ ou curar a doença. Logo ambas as instituições ampliaram seu escopo de atuação e dedicaram-se a estudar e prevenir doenças comuns no Brasil, do cólera à febre amarela, além de verminoses, combate a envenenamentos por animais e plantas, tuberculose, poliomielite, e muitas outras enfermidades.

Atualmente conhecido dos brasileiros por seu posicionamento à frente na luta contra o coronavírus, o Instituto Butantan desempenha um papel fundamental para a saúde pública brasileira há mais de 100 anos. Nascido em 1901 com o nome de Instituto Serumtherápico, ganhou o nome atual em 1925. O médico Vital Brazil, imunologista reconhecido internacionalmente, foi seu primeiro diretor, mas ele se afasta do instituto em 1919, levando consigo vários pesquisadores, em consequência de uma crise gerada pelo início da mercantilização dos serviços e produtos do Butantan. Esta primeira crise do Instituto até hoje apresenta motivações e argumentos obscuros e controversos, envolvendo interesses privados, rixas políticas e pessoais, desavenças  profissionais.     

Seguindo-se às reformas no sistema de ensino em 1931 e a criação da Universidade de São Paulo em 1934, o Instituto Butantan contrata diversos pesquisadores estrangeiros, incrementando o próprio processo de reestruturação: Henrique Slotta (Breslau, Alemanha, descobridor da progesterona) e seus assistentes Klaus Neisser e Gherard Szyszka , além de Dioniso von Klobusitsky, Sara Kaufmann e Paulo König, Gertrud von Ubish (na área de genética), são alguns exemplos de cientistas que passariam alguns anos no Brasil desenvolvendo linhas de pesquisa no Instituto.

Atualmente o instituto é um grande produtor de insumos médicos, e especialmente de soros e vacinas. O trabalho do Butantan com soros e antídotos, aliás, é bastante antigo: já em 1912 inaugurava seu primeiro serpentário, dedicado a produzir soro antiofídico (contra veneno de cobras) em uma região cercada por plantações de café cujos trabalhadores eram vítimas frequentas de ataques de cobras. O pioneirismo do Butantan nessa área específica acabou por trazer reconhecimento internacional ao trabalho desenvolvido no instituto, que nos anos seguintes expandiu-se para áreas como herpetologia (ramo da zoologia dedicado ao estudo dos répteis e anfíbios), imunologia, embora o grosso da sua produção científica (cerca de 80% das pesquisas) ainda se concentre na área de toxinas animais.

Atualmente as atividades do Instituto Butantan são, basicamente: desenvolvimento de estudos e pesquisa básica nas áreas de biologia e de biomedicina orientadas para a saúde pública; realização de missões científicas no país e no exterior por meio das diversas agências internacionais multilaterais ( Organizações Mundial e Panamericana da Saúde, Organização das Nações Unidas, Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas); atuação em parcerias com outros centros de pesquisa e universidade em outros países; viabilização de quatro museus através dos quais são desenvolvidas atividades educacionais (Museu Biológico, Museu Histórico, Museu de Microbiologia e o Museu de Saúde Pública Emílio Ribas); capacitação científica (programas de especialização, mestrado e doutorado).

O Butantan está ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e atua, com o Ministério da Saúde, no Programa Nacional de Imunizações (PNI), fornecendo seus insumos à população brasileira de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em meados de 2020 o Instituto Butantan firmou parceria com a Sinovac Biotech, uma biofarmacêutica chinesa que já havia desenvolvido a vacina para o SARS-CoV-1 e que já se lançara na empreitada de desenvolver uma vacina contra o vírus causador da atual pandemia de coronavírus, SARS-CoV-2. Finalizada a 3ª fase de testes da vacina (realizada também no Brasil) a matéria-prima da Sinovac foi enviada ao Butantan para que o instituto começasse a produção da vacina aqui. Ela começou a ser aplicada em janeiro de 2021, e em março deste ano o Instituto Butantan anunciou que havia desenvolvido a primeira vacina 100% nacional contra a Covid-19: a ButanVac, que deve iniciar as fases de teste em abril.

A documentação que ilustra este texto pertence ao acervo do Arquivo Nacional.

Fotografias Simpósio Internacional sobre Venenos Animais no Instituto Butantan, São Paulo, SP. Da esq. Para direita, Marcos A. Freiberg (1º), W. Bücherl (3º), em segundo plano, Avelino Barrio da Argentina (3º) e Berta Maria Júlia Lutz (4ª). São Paulo, 1966. Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. br_rjanrio_q0_blz_apr_elc_fot_0002_d0002de0004

Atividades do Instituto Butantan, detalhamento da sua estrutura, origem dos recursos, dificuldades de obtenção de material, para soro antiofidico. Data: 1983. Serviço Nacional de Informações. br_dfanbsb_v8_mic_gnc_eee_83013507_d0001de0001

[sonoro] Apresenta uma história sobre o processo de obtenção de soro para combater doenças. Conta a história do cientista Vital Brasil, primeiro diretor do Instituto Butantan, e suas descobertas na área de soros anti-anfíbio, e outros soros. Data: 1950. Serviço Social da Indústria. BR RJANRIO T3.0.DSO, SRA.31

 

 

Recomendações de leitura

Benchimol, J. L., & Teixeira, L. A. (1993). Cobras, lagartos & outros bichos: uma história comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. In Cobras, lagartos & outros bichos: uma história comparada dos Institutos Oswaldo Cruz e Butantan (pp. 228-228).

CAMARGO, A. C. (2002). As contradições da política de saúde no Brasil: o Instituto Butantan. São Paulo em Perspectiva, 16(4), 64-72.

Ibañez, N., Fernandes, S., Faria, M., Wen, F., & Sant'Anna, O. (2019). De Instituto Soroterápico a Centro de Medicina Experimental: institucionalização do Butantan no período de 1920 a 1940. Cadernos de História da Ciência, 2(1). Recuperado de https://ojs.butantan.gov.br/index.php/chcib/article/view/251/237

Todo o conteúdo deste site está publicado sob a licença  Creative Commons Atribuição-SemDerivações 3.0 Não Adaptada.