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Na virada do século XIX para o século XX, a cidade do Rio de Janeiro, então sede do poder político, era também o centro cultural do país e o seu maior porto. Atraia e repercutia para o restante do Brasil toda sorte de desenvolvimento tecnológico, mudanças no espaço público e modos de vida sintonizados com o ideal de modernidade. As conexões da cidade com o restante do mundo, facilitadas pela rapidez de propagação das notícias, aceleravam a busca pelas feições cosmopolitas, especialmente aquelas de “origem europeia ou norte-americana”, no dizer de Sevcenko (1998, p. 534).

Desde a segunda metade do século XIX a ideia de uma reforma urbana na cidade do Rio de Janeiro ganhava força. De um lado, lideranças políticas e empresariais apontavam a necessidade de facilitação da circulação viária; de outro, sanitaristas discutiam a urgência de resolver as precárias condições de higiene da região central, especialmente aquelas encontradas nas moradias coletivas.

Em 1902, Francisco Pereira Passos iniciou sua administração na prefeitura do então Distrito Federal, sendo incumbido, pelo presidente Rodrigues Alves, de alargar ruas e sanear a cidade. Engenheiro, Pereira Passos havia estudado em Paris na década de 1850 quando pôde acompanhar as reformas empreendidas por Eugène Haussmann naquela cidade. Presididas pelos ideais de modernidade e civilidade, as intervenções urbanas promovidas por Haussmann marcaram Paris com a abertura de grandes avenidas e bulevares geometricamente ordenados e com a demolição de empreendimentos comerciais, habitações e edificações remanescentes do período medieval.

Como Sevcenko (1998, p. 535) já nos chamara a atenção, “as ‘elegâncias’ necessariamente deveriam ser francesas” e Pereira Passos tomou como modelo o assim chamado “embelezamento” que Haussmann promovera em Paris para coordenar a abertura e construção de uma avenida interligando, de um lado, o cais e os armazéns do porto e, de outro, o centro da cidade do Rio de Janeiro. O prefeito teve, entre seus colaboradores, os engenheiros Lauro Müller, Paulo de Frontin e Francisco Bicalho (ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, 2015, p. 6). Juntos empreenderam essa e outras reformas urbanas que transformaram intensa e permanentemente a cidade do Rio de Janeiro, as quais se tornaram popularmente conhecidas como “bota-abaixo”. O apelido denuncia a demolição de cerca de 600 prédios, entre cortiços e moradias populares, apenas para a abertura da Avenida Central, hoje renomeada Avenida Rio Branco.

A consecução desse empreendimento considerável foi precedida pela criação de uma comissão especial, subordinada ao Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, com a incumbência de coordenar as obras necessárias a abertura da grande avenida, construção de um edifício para a Caixa de Amortização e obras no Liceu de Artes e Ofícios.

 

Inaugurada em 1905, a Avenida Central foi projetada para ter 33 metros de largura e 1.800 metros de extensão. Foi realizado um concurso internacional de fachadas para os novos edifícios que iriam ser construídos e, posteriormente, ocupados por hotéis, restaurantes, magazines, casas comerciais, jornais e teatros.

 

 

A edificação dos novos prédios foi documentada pelo fotógrafo Marc Ferrez, contratado pela Comissão Construtora, trabalho que resultou no afamado Álbum da avenida Central.

 

 

O fundo Comissão Construtora da Avenida Central (1C), custodiado pelo Arquivo Nacional, reúne documentos textuais e cartográficos produzidos entre 1892 e 1909 e está dividido em quatro séries. Na série Cessão de terrenos e prédios encontram-se dezenas de processos a respeito dos acordos amigáveis para cessão de posse e indenizações. Na série Mapas estão as plantas dos prédios construídos, com suas diferentes seções. A série Secretaria é composta por correspondência, declarações, editais, escrituras, entre outros documentos. E na série Vendas de terrenos estão os processos de venda de terrenos para construção da Avenida Central.

 

Imagens

Policlínica do Rio de Janeiro – Fachada do lado da Avenida. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1905. BR_RJANRIO_1C_0_MAP_0042_d0002de0007

Caixa de Amortização – Fachada sobre a Avenida Central. Rio de Janeiro, 30 de março de 1905. BR_RJANRIO_1C_0_MAP_0062_d0001de0004

Fachada Principal da Companhia Doca de Santos – escritório central. Rio de Janeiro, 19 de abril de 1905. BR_RJANRIO_1C_0_MAP_0064_d0001de0005

Orçamento para impressão de fotogravuras enviado por Marc Ferrez à Comissão Construtora da Avenida Central. Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1907. BR_RJANRIO_1C_0_SEC_ORM_2

 

Bibliografia

ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Da Guanabara dos índios aos cariocas de todas as origens – 450 anos de história – Século 20: a era republicana e modernizadora. Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio, 2015. E-book. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/ebooks/linhadotempo/seculo20/html5forpc.html?page=0. Acesso em: 01 mar. 2021.

SEVCENKO, Nicolau. A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio. In: SEVCENKO, Nicolau (org). História da vida privada no Brasil. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 513-620.

 

 

 

 

 

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