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A controversa figura de Goes Monteiro: precursor da “doutrina de segurança nacional” elaborada pela Escola Superior de Guerra, revolucionário de primeira ordem em 1930, homem forte do primeiro governo Vargas, articulador da participação do Brasil na Segunda Guerra, eterno candidato a Presidente da República sem jamais alcançar o cargo.

O alagoano Pedro Aurélio de Goes Monteiro (nascido em 1889) pode ter passado sua vida pública à sombra de homens mais populares, mais carismáticos, mas ele sem dúvida desempenhou um papel central na transformação do papel do exército (e das forças armadas) na sociedade brasileira, tanto como formulador como executor de projetos e políticas implementados pelo Estado brasileiro a partir dos anos 1930. Em grande medida responsável por estabelecer as bases militares do Estado Novo, defensor de um “estado forte” de atuação autoritária e inspiração fascista, Goes Monteiro foi um dos responsáveis pela maior profissionalização e unificação (inclusive ideológica) do exército.

 Ele se sobressai a partir do momento em que vem para o Rio de Janeiro cursar a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Estado Maior, sob direção dos oficiais da Missão Militar Francesa (MMF) na virada para a década de 1920, onde testemunhou levantes do movimento tenentista e a partir de onde seguiu no encalço da coluna Prestes em 1926. Embora legalista, sua absoluta falta de confiança nos políticos e nas instituições brasileiras levavam-no a defender uma participação maior do exército na vida política, mas de uma forma institucional. Quando da eclosão do Movimento de 1930, encontrava-se no Rio Grande do Sul, para onde fora transferido como forma de punição. Assumiu a chefia militar do movimento na região e retornou a Capital Federal, tornando-se um dos homens fortes do governo. Chegou a general no ano seguinte e liderou o combate à derrotada Revolta Constitucionalista de 1932 em São Paulo. Foi ministro da Guerra em 1934 e 1935 e depois, chefe do Estado Maior do Exército.

Goes Monteiro foi um dos principais articuladores do golpe que originou a ditadura do Estado Novo varguista e defensor da repressão aos grupos de oposição de esquerda. Em 1939 foi enviado aos Estados Unidos em missão militar, iniciando um  processo de aproximação com aquele país em consequência do conflito armado europeu, que logo se estenderia por outros continentes.

Sua proximidade com Vargas não impediu que articulasse sua queda, mesmo ocupando o Ministério da Guerra. Depois do fim do Estado Novo, licencia-se do exército para se eleger senado em 1947. Retorna ao exército e mais uma vez assume a chefia do Estado Maior (1951-1952) onde permanece mesmo com a morte de Vargas e, em seguida, integra o Superior Tribunal Militar até sua morte em 1956.

O fundo Goes Monteiro, sob guarda do Arquivo Nacional, apresenta 13 séries e várias subséries, incorporando correspondência (oficial e pessoal), boletins, publicações, material apreendido de organizações de oposição, mapas, manifestos. Oferece possibilidades de pesquisa em especial para os estudiosos da história militar brasileira, sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra, as articulações do governo Vargas de 1930 a 1945 (principalmente). Encontra-se organizado e digitalizado, disponível no SIAN.  

A carta  com link no texto foi escrita por Goes Monteiro, chefe do Estado-Maior do Exército, ao general George [Catlett] Marshall, chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, sobre a cooperação militar brasileira ao lado das tropas americanas na Segunda Guerra Mundial: BR RJANRIO SA.0.COR, A943.351. Datada de 09 de agosto de 1943.

As imagens foram retiradas dos seguintes dossiês:

BR RJANRIO SA.0.IMP, PAN.877: Folheto de propaganda (impresso) “São Paulo concorre para a grandeza do Brasil. Vamos!” contendo as finalidades, organização, subscrição e distribuição dos lucros da Sociedade Colonizadora 24 de Outubro, com sede em São Paulo; 1930-1931.[NESTA MATÉRIA, APENAS A CAPA]

BR RJANRIO SA.0.DOS, MAN.782: Manifesto (mimeografado) da Comissão Militar Pró-Frente Democrática, intitulado “O dever das Forças Armadas é a defesa intransigente da Constituição”, criticando Getúlio Dornelles Vargas, presidente da República, por ser anticonstitucional e aliar-se ao integralismo, exaltando José Antônio Flores da Cunha, governador do Rio Grande do Sul, João Guedes da Fontoura, comandante da 5ª Região Militar, Waldomiro Castilho de Lima, ex-comandante da 1ª Região Militar, entre outros, e defendendo o patriotismo e a mais absoluta vigilância do Exército. Escrito em agosto de 1937, poucos meses antes da instauração do Estado Novo. [LINK NO TEXTO]

BR RJANRIO SA.0.PTL, REL.649. Relatório (2 vias, datilografado e manuscrito) apresentado pelo titular, chefe do Estado-Maior do Exército (EME), para o general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra, sobre as atividades do EME durante o ano de 1937 e fazendo uma análise sobre a situação interna do país, destacando-se a crise política no Rio Grande do Sul e a implantação do Estado Novo.  [CLIQUE NA IMAGEM PARA ACESSAR DOCUMENTO NA ÍNTEGRA]

 

Leitura recomendada

Bretas, M. L. B. M. L., & Bretas, M. L. (2008). O general Góes Monteiro: a formulação de um projeto para o Exército. Militares e Política, (2).

Marcusso, M. (2020). A formação da elite militar brasileira: educação militar, escola de Estado-maior do exército e o Ministério da Guerra de Góes Monteiro (1934-1935). Tematicas, 28(56), 70-106.

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